Cisternas nas Escolas
19.05.2017
Encontro de planejamento do Cisternas nas Escolas aponta desafios para a educação no Semiárido

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Por Elka Macedo - Asacom

Temas como diversidade, gênero e comunicação estavam na pauta do encontro de planejamento do Programa Cisternas nas Escolas | Foto: Elka Macedo

Reconhecendo que a escola é um espaço de fortalecimento da convivência com o Semiárido, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) dá continuidade ao Programa Cisternas nas Escolas. Nesta nova etapa, serão construídas cisternas de placas de 52 mil litros em 153 municípios do Semiárido, num total de 1.503 escolas rurais.

Segundo o coordenador do Programa, Rafael Neves, “o Cisternas nas Escolas traz para a ASA uma outra perspectiva do lugar das comunidades, das famílias do Semiárido que é o lugar da escola. No chão da escola vive todas as realidades dos povos do Semiárido, os problemas e as potencialidades do Semiárido estão ali. E colocam como desafio pra rede debater essas questões para abrir novas perspectivas de trabalho e de debate, e são desafios na ponta para a construção de um novo projeto de convivência com o Semiárido, para construção de um mundo diferente”, salienta.

Essas e outras questões subsidiaram o planejamento desta nova fase do Programa, ocorrido nos dias 16 e 17 de maio, no município pernambucano de Camaragibe, reunindo representantes das organizações da rede que executarão as atividades nas comunidades. O planejamento contou também com a participação da pedagoga e socióloga rural, Adelaide Pereira, e da integrante do movimento LGBTT, militante de gênero e comunicadora popular, Daniela Bento.

Adelaide fez um resgate histórico sobre as ameaças e resistências da educação contextualizada. Ela destacou o momento em que a educação contextualizada entrou na pauta de debate dos movimentos sociais permitiu que os participantes visualizassem como a educação do campo vem conquistando e garantindo espaço no cenário da convivência com o Semiárido. Para Adelaide “a proposta de educação contextualizada sai da escola sem se afastar do currículo escolar”, entendendo que este modelo alia o conhecimento dos livros com o saber popular de modo que os estudantes percebam a importância de valorizar o seu lugar.

Para além de estimular as escolas rurais a adotarem uma educação que considere a realidade dos estudantes e que para tanto, envolva pais e comunidade, um outro desafio que foi posto é a necessidade de considerarmos o modo de ser e existir das pessoas, para além do fazer produtivo.

“Precisamos entender que o mundo tem outros seres e a educação contextualizada não pode fugir do enfrentamento de entender os seres que estão inseridos no contexto. Se a gente quiser avançar no debate de uma educação diferenciada da escola convencional capaz de gerar protagonismos e sujeitos autônomos, nós precisamos considerar a diversidade dos seres. E o ser não é o hétero, católico, branco e magro. Precisamos compreender que muitas crianças estão negando a sua condição de negra para se adequar aos padrões. Quanto mais a gente aceitar que excluímos este debate, mais perto estaremos de fazer diferente”, salienta Daniela.

Divididos em grupos, os/as participantes levantaram questões sobre as etapas do projeto | Foto: Elka Macedo

Ao longo da programação foram debatidas também as etapas de implementação do Programa, com destaque para mobilização das comunidades escolares, formação e construção da tecnologia. No espaço, organizações que já haviam executado outras etapas do Programa trocaram experiências e contribuíram com as instituições que vão trabalhar com o Programa pela primeira vez. No tocante, à execução alguns pontos foram destacados como desafiadores e importantes, a exemplo da comunicação, parceria com as prefeituras e secretarias de educação e envolvimento das comunidades.

A integrante do Movimento de Organização Comunitária (MOC), Ana Glecia Almeida, salientou que a participação da comunidade no cotidiano escolar é ainda um tabu. “A gente tem um desafio ainda, que é fazer a sensibilização da comunidade para ela estar na escola não pra ver boletim, ou festa de dia das mães ou dia dos pais, mas pra ela estar participando do processo, pra ela se sentir pertencente ao processo e também dona, e ai a gente consegue tanto efetivar o direito a uma educação de qualidade na escola do campo como fazer com que as famílias participem da efetivação desses direitos em todos os níveis”, destacou.

Educação e conjuntura

Diante do cenário de perdas de direitos que vem se alastrando no último ano no país, a educação pública é um dos setores que mais tem sido atingido pelo desmonte orquestrado pelo governo atual. O esvaziamento do Ministério da Educação (MEC) e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) com a destituição de funcionários ligados aos movimentos sociais e consequente paralisação de ações previstas no Pronacampo são alguns dos fatos que desestabilizaram os programas de fortalecimento da educação do campo.

Além disso, a reforma do ensino médio por meio da Medida Provisória 746, lei n° 13.415 de 16 de fevereiro de 2017, e o Programa Escola sem Partido, Projeto de Lei 196 de 2016 que está em tramitação no senado; selam o desmonte da educação pública. Segundo Adelaide Pereira, “essas medidas destroem o aprendizado critico do aluno da escola pública e fortalecem a formação de mão de obra vinculada aos interesses do capital e cria a figura do notório saber. Além disso, amordaça professores e criminaliza a formação crítica”.