Sementes
09.06.2017
Organizações traçam estratégias para o fortalecimento de uma rede de sementes na região

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Por Elka Macedo - Asacom

No evento foram apresentados os panoramas da situação do estoque de sementes crioulas das famílias agricultoras | Foto: Elka Macedo

Durante o Encontro Nacional da Rede de Sementes do Semiárido que aconteceu entre os dias 05 e 07 de junho em Camaragibe-PE, organizações do Semiárido traçaram ações para contribuir com o fortalecimento das redes estaduais de sementes e a multiplicação das variedades produzidas pelas famílias, bem como a realização de uma Campanha Nacional de valorização das Sementes Crioulas. Além disso, no evento foram encaminhadas atividades para denunciar a contaminação das sementes e a crescente distribuição e produção das sementes transgênicas.

Para iniciar o debate, o facilitador e membro da AS-PTA, Luciano Silveira, fez um breve resgate histórico das conquistas das famílias agricultoras acerca do reconhecimento das sementes crioulas. “Nossa história foi marcada por programas de sementes numa lógica distributiva com uma lógica ideológica de que as sementes crioulas não prestavam. E na contramão disso os/as agricultores/as não se desfizeram de suas sementes e com apoio das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) foram montando seus bancos comunitários. Não foi fácil reconhecer as sementes crioulas em programas públicos porque quem estava no governo não acreditava no poder produtivo das sementes crioulas. Criar o Programa Sementes do Semiárido, em 2015, foi um marco”, lembrou.

Em sua fala, Luciano destacou ainda o quanto é desafiador mais urgente fortalecer as ações em rede. “A gente afirmou, com isso, que não aceitávamos um programa de distribuição e por isso, precisamos nos articular em rede a fim de criar um novo paradigma de gestão das sementes”. Na ocasião, os/as participantes/as que representavam organizações de nove estados do semiárido brasileiro fizeram uma explanação de como estão sendo articuladas as redes estaduais de sementes, qual a situação dos estoques e qual a relação que as famílias têm com os programas públicos de distribuição de sementes.

Nas apresentações dos grupos, foram apontados como aspectos positivos do fortalecimento e implantação de bancos comunitários de Sementes: a afloração do sentimento de solidariedade entre as famílias, identificação da diversidade de sementes nos territórios; resgate cultural e alimentar; troca de experiências entre gerações, fortalecimento das ações de jovens e mulheres, bem como a parceria com universidades estaduais e federais para realização de pesquisas sobre as sementes. Os estados apontaram também os desafios que enfrentam, a exemplo da dependência ainda expressiva dos programas de distribuição de sementes do governo; a estiagem prolongada que não têm permitido que haja a multiplicação almejada das sementes e a expansão das sementes transgênicas, principalmente de milho, que vem ocasionando a contaminação das sementes das famílias agricultoras.

As organizações da Paraíba trouxeram sementes da paixão de agricultores do Polo da Borborema e alguns materiais que são utilizados para controle dos bancos comunitários de sementes | Foto: Elka Macedo

“A contaminação do milho do/a agricultor/a é uma violência porque não existe descontaminação desta base genética. Não dá pra recuperar! Precisamos cuidar do milho porque com mais três ciclos chuvosos será difícil encontrar milho crioulo porque há um grande risco de contaminação. A estratégia é guardar para tirar três anos depois”, denuncia Luciano Silveira.

Acerca da distribuição de sementes do governo, Andréa Sousa que faz parte da organização cearense Esplar salienta: “nós temos o desafio de fortalecer a autonomia das famílias, porque ainda há uma grande dependência dos programas de distribuição do governo. E é importante também ter um olhar especial para as mulheres, pois elas são as mantenedoras da biodiversidade. As mulheres mantêm os quintais que alimentam a família. As mulheres produzem, colhem e trocam as sementes”.

Já sobre a legislação em torno do tema da comercialização das sementes crioulas, o técnico da AS-PTA Paraíba, Emanoel Dias destaca: “Uma coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de estados que estão discutindo a lei de sementes, porque é inadmissível o estado dizer que não pode comprar as sementes crioulas porque tudo isso está respaldado na lei A lei n° 10.771, de 2003 que permite a compra de sementes para distribuição por meio de programas governamentais. A gente precisa também aglutinar este conjunto de legislações e se articular em rede para fortalecer essa ação em que a gente só tem a crescer”, refletiu.