Semiárido baiano
05.07.2017 BA
Caravana Agroecológica denuncia violações de direitos e fortalece lutas de comunidades e povos tradicionais

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Por Luciana Rios - Comunicação do Sasop

Cartaz sobre uma comunidade de fundo de pasto apresentada durante a caravana

Entre os dias 26 a 30 de junho, a “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: nos caminhos das águas do São Francisco” percorreu os municípios de Juazeiro, Sobradinho, Campo Formoso, Jacobina, Casa Nova, Remanso e Campo Alegre de Lourdes, com a proposta de visibilizar as denúncias, os conflitos e as experiências de resistência e organização de comunidades dos municípios visitados. O submédio São Francisco é uma região de muitos conflitos agrários, por conta dos grandes projetos que concentram água e terra e tentam, há décadas, expulsar e oprimir os povos que lutam e resistem em seus territórios. Essa caravana integra o processo preparatório para IV ENA, marcado para acontecer em 2018, em Belo Horizonte-MG.

Participaram cerca de 70 pessoas, entre representantes de organizações e movimentos sociais, universidades, institutos de pesquisa e órgãos públicos, que acessaram diferentes realidades que ameaçam povos e comunidades do território. As visitas foram feitas em duas diferentes rotas, que buscaram promover uma reflexão sobre os modelos de desenvolvimento e os sistemas agroalimentares no entorno da bacia hidrográfica do Rio São Francisco a partir de seis eixos orientadores: impactos da mineração, conflitos fundiários, conflitos por água, uso e impactos de agrotóxicos, as experiências agroecológicas e resistências comunitárias.

Entre as experiências visitadas está o exemplo de luta e resistência do território de Areia Grande, em Casa Nova, que reúne aproximadamente 400 famílias ameaçadas por grileiros, desde a construção da Barragem de Sobradinho, na década de 1970. “Casa Nova é um município que sempre teve essas práticas de grilagem por grandes fazendeiros. É um município que quem manda são os coroneis e essa prática continua até hoje. Pessoas que têm dinheiro se acham no direito de massacrar os agricultores e agricultoras”, contou Valério Rocha, presidente da Associação de Fundo de Pasto de Areia Grande.

Valério afirmou que a união das famílias foi fundamental para a comunidade enfrentar as ameaças e denunciou ainda que desde que a justiça de Casa Nova emitiu uma ordem de despejo em favor de empresários que dizem ser “donos” das terras de Areia Grande, a comunidade vem enfrentando agressões, que culminaram no assassinato do líder comunitário José de Antero, em 2009, e permanece até hoje não esclarecido pela justiça.

Para Joaquim Ferreira da Rocha, conhecido por “Quinquim”, enquanto os direitos à vida e a dignidade do povo forem ameaçados pelos donos do dinheiro e pelas interpretações injustas das leis, Areia Grande e todas as comunidades do entorno vão estar firmes na luta. "A gente não mora aqui, a gente vive aqui. Aqui a gente cria, aqui a gente planta, aqui a gente pesca, aqui a gente mora, a gente vive aqui! Só existe Areia Grande porque existe o povo. Um homem e uma mulher sem terra é um homem e uma mulher sem vida, porque a terra é nossa mãe! Defender a terra é defender a nossa vida", disse Seu Quinquim.

A Caravana visitou ainda pescadores e pescadoras atingidas pela construção da barragem de Sobradinho; áreas sem saneamento e esgotamento sanitário adequado na zona urbana de Casa Nova; bacia do Rio Salitre que, com impactos do agronegócio, passou de afluente do rio São Francisco a receber água dele; e experiências agroecológicas e de cooperativas no município de Jacobina.

O Sasop, que participou da organização de uma das rotas, acompanhou os caravaneiros e caravaneiras ao Sítio Barra, em Remanso. Lá, Seu Cícero Justtiniano de Souza apresentou sua experiência de agricultor experimentador e reflorestador da caatinga. Ele também é presidente da Associação de Fundo de Pasto dos Pequenos Produtores do Sítio Barra. Na comunidade, os visitantes conheceram a luta das mulheres da Associação de Pescadores e Pescadoras de Remanso (APPR), que beneficiam pescado e enfrentam o machismo e o preconceito diariamente.

A culminância entre as duas rotas e o encerramento da caravana aconteceu no Espaço Multicultural da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro, onde os participantes socializaram suas impressões e aprendizados dos dias em campo.