Produção no Semiárido
19.07.2017
Parcerias que fortalecem a convivência com o Semiárido
Comitiva formada por diretores e técnicos do BNDES e MDS visitam experiências de convivência com o Semiárido em São Miguel do Gostoso/RN

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Por Hugo de Lima / Asacom

Comitiva visitou cisterna-calçadão de Maria Targino e seu esposo José Francisco | Foto: Hugo de Lima / Asacom

As cisternas mudaram o cenário do Semiárido brasileiro. Se com as cisternas de primeira água, milhões de pessoas conquistaram o acesso para consumo humano básico, as cisternas de segunda água potencializaram a capacidade das famílias agricultoras para a produção, mantida inclusive com as estiagens dos últimos seis anos. Uma conquista do agricultor e da agricultora, junto com as organizações da sociedade civil e diversos parceiros.

Maria Targino Barbosa, conhecida como Dona Mariquinha, trabalha desde muito nova e não deseja parar, mesmo aos 79 anos. | Foto: Hugo de Lima / Asacom

Histórias inspiradoras como a de Maria Targino Barbosa, mais conhecida como Dona Mariquinha, e seu esposo José Francisco fazem desse Semiárido um lugar de vida. Na última sexta-feira, dia 14, a família recebeu, junto com o apoio da comunidade onde vive, o Canto da Ilha de Cima II, em São Miguel do Gostoso/RN, e organizações da ASA no estado do Rio Grande do Norte (Fetraf-RN, Techne, AACC e Terra Viva) uma visita de membros do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Estavam presentes a Diretora de Infraestrutura e Sustentabilidade do BNDES, Marilene Ramos, e o Secretário Nacional de Segurança Alimentar do MDS, Caio Rocha. Eles conheceram o quintal e o lote onde está instalada a cisterna-calçadão da família, além da casa de farinha comunitária e o Banco de Sementes organizado pelo Programa Sementes do Semiárido da ASA, que conta com a parceria do MDS e do BNDES.

Marilene Ramos afirmou que é possível apoiar a pequena economia. “Seria inaceitável aceitar que em pleno século XXI as pessoas ainda morressem de sede. Se não fossem as organizações representadas aqui, jamais [o BNDES] conseguiria chegar a um lugar como este, a um banco de sementes, a uma cisterna de produção… até para entender qual é o problema. O que a gente vê muito é solução errada e nós não queremos isso. Nós queremos ajudar sim, mas com soluções efetivas, que de fato levem melhor qualidade de vida para a população. Marilene também reconheceu o papel da Articulação Semiárido Brasileiro na implantação dos programas apoiados. Segundo ela, “é impressionante como [a ASA] consegue fazer esse trabalho chegar na ponta, com todos esses investimentos, e manter durante todos esses anos uma reputação de seriedade e de competência”.

Dona Mariquinha não esconde a felicidade e garante que foi uma grande mudança a chegada da cisterna, executada a partir do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA. Ela, que já tem 79 anos, contou que se sente feliz e saudável por poder trabalhar todos os dias em seu roçado. “Não tenho vontade de parar. Meu prazer é trabalhar. Se eu parar e sentir que não tô fazendo nada, eu sinto logo aquela tristeza… Sobre a terra, eu sei e planto de tudo. Planto feijão, planto milho, planto fava, planto algodão. Sempre trabalhei em roçado, mas da minha horta também nunca deixei de cuidar. Sempre plantei minhas cebolas, meus alfaces, meus coentros”. No Semiárido brasileiro, já foram construídas mais de 150 mil tecnologias sociais que guardam água para a produção de alimentos. Desse total, o P1+2 já implantou mais de 95 mil tecnologias.

A visita seguiu ao espaço dedicado para o banco de sementes comunitário implantado pelo Programa Sementes do Semiárido. Para além de potencializar a lógica de estoque do agricultor e da agricultora com seu roçado e de fortalecer a associação comunitária, o programa tem a perspectiva do resgate de material crioulo, pois constrói uma dinâmica de preservação das variedades da biodiversidade da região. Segundo Antônio Barbosa, coordenador do programa Sementes do Semiárido e também do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), “esse projeto apoiou inicialmente 640 casas de sementes. Isso dá em torno de 12 mil e 800 famílias atendidas. Nós fizemos um levantamento do que essas famílias têm no quintal, no roçado e de onde veio [essas variedades]. Com isso, nós encontramos só de milho, por exemplo, mais de 500 variedades; de feijão nós encontramos mais de 400 variedades; de arroz, que nem é tão comum aqui, nós encontramos mais 80 variedades - e isso com apenas essas famílias!” A grande questão, a partir dos resultados, é de como garantir para todo o Semiárido um conjunto de casas de sementes capaz de construir condições para fortalecer essa estratégia de diversidade. A etapa atual de execuções do programa está apoiando a reforma ou construção de mais 72 casas ou bancos comunitários de sementes.

Naidson Baptista, da coordenação executiva da ASA, destacou que "o povo do Semiárido sabe por onde quer caminhar". Foto: Hugo de Lima / Arquivo Asacom

Na ocasião, Naidison Baptista, da coordenação executiva da ASA, falou da importância da visita e lembrou que "o povo do Semiárido sabe por onde quer caminhar". O compromisso da ASA com a convivência com o Semiárido é fortalecido por parcerias que também constroem apoio a essa perspectiva. “É um momento muito estratégico para a vida da ASA. É um momento de busca de financiadores que sejam suporte no processo de convivência com o Semiárido. Ter a possibilidade de dialogar diretamente com técnicos e diretores [dos parceiros] é uma oportunidade de mostrar nosso trabalho para que se constate que estamos efetivamente contribuindo para a transformação da vida das pessoas.”