Sementes
12.09.2017 AL
União de guardiões/as possibilita multiplicação de sementes da resistência

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Por Elessandra Araújo – Comunicadora Cdecma

A boa colheita foi resultado da partilha e união das famílias agricultoras | Foto: Elessandra Araújo

Após cinco anos consecutivos de estiagem, os/as guardiões/as das Sementes da Resistência de Alagoas colhem fartura. Os 35 kg de sementes de feijão laje plantados, se multiplicaram e a colheita soma 690 quilos da variedade que serão armazenados no Banco Comunitário de Sementes (BCS) do Sítio Açude na cidade de Maravilha. “No Banco não tinha mais sementes, agora, a gente vai armazenar toda semente no Banco Comunitário, e no próximo ano as famílias tem sementes crioulas garantidas para o plantio”, disse um dos sócios do banco, Reinaldo Barbosa Lemos.

A estratégia dos associados do BCS foi unir forças e cultivar a roça comunitária, por isso, aproveitaram o período chuvoso, e no dia 30 de maio semearam as sementes da resistência. O resultado do esforço conjunto foi colhido no último dia 16 de agosto. Após a colheita, as vinte famílias trabalharam no processo de secagem. E no dia 03 de setembro foram para etapa de bater o feijão. “Agora vamos esperar o dia de sol para deixar as sementes secas e depois armazenar nas bombonas que conseguimos do Programa Sementes da ASA”, explicou Reinaldo.

A divisão dos trabalhos para o cultivo coletivo é uma experiência nova na comunidade. “Foi a primeira vez que a gente fez uma roça comunitária, e um foi ajudando o outro, desde o plantio até chegar o processo de bater o feijão, mas ainda temos outros trabalhos e a gente vai continuar. Se a gente não fizesse o trabalho em grupo não conseguiria as sementes crioulas para o Banco. E a gente aprendeu a trabalhar em grupo com as capacitações realizadas pelo pessoal dos Programas da ASA”, destacou a agricultora Maria José Rodrigues Alves, 58 anos.

Além do processo de formação para convivência no Semiárido, as famílias conquistaram estrutura para fortalecer o Banco Comunitário de Sementes Crioulas, através do Programa de Manejo da Agrobiodiversidade Sementes do Semiárido (Programa Sementes do Semiárido), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e executado pela Cooperativa dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs).                                         

Banco Comunitário de Semente

Os mutirões estão sendo a estratégia utilizada pelas famílias agricultoras desde o plantio | Foto: Elessandra Araújo

O Banco de sementes crioulas armazena vida, afinal as sementes da resistência são consideradas um patrimônio cultural da agricultura familiar. Essas sementes foram passadas de geração em geração e são adaptadas ao clima e ao solo do Semiárido. “A semente é boa e a gente só fez plantar e não precisou de agrotóxico. Amadureceu toda de uma vez e secou toda por igual”, destacou a agricultora Maria José.

As sementes crioulas tem qualidade natural, não são geneticamente modificadas em laboratório e não correm o risco de contaminar a saúde humana e animal. Além do mais não existe o risco de pagamento de royalties pelo seu uso, porque não são patenteadas como as transgênicas, e são trocadas e doadas por agricultores/as, em uma prática solidária.

No entanto, muitas sementes crioulas foram perdidas, e outras contaminadas por meio do cruzamento com sementes transgênicas, que são comercializadas e distribuídas para os agricultores e agricultoras, inclusive pelo Estado.  Deste modo, um dos grandes desafios para a agricultura familiar no Semiárido alagoano está relacionado com a manutenção da semente crioula, uma vez que as politicas de governos contribuem para fortalecer o agronegócio e desmontar a agricultura familiar. Além disso, no Estado a LEI 6.903 de 03 de janeiro de 2008, que trata sobre a criação do Programa Estadual de Bancos Comunitários de Sementes ainda não foi regulamentada.