Agroecologia
19.04.2018 PE
Pernambuco conclui etapa estadual rumo ao IV Encontro Nacional de Agroecologia
Encontro aconteceu nas dependências da Unidade Acadêmica de Serra Talhada e reuniu todas as regiões do Estado

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Por Tádzio Estevam - Assessor de Comunicação da Diaconia

Encontro estadual reuniu cerca de 200 pessoas de todas as regiões de Pernambuco | Hugo de Lima

Agricultores, agricultoras, trabalhadores, trabalhadoras, juventudes e comunidades tradicionais que compõem a Agroecologia em Pernambuco realizaram neste início de semana (16 e 17), em Serra Talhada, sertão pernambucano, a etapa estadual rumo ao IV ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) que acontecerá entre os dias 31 de maio e três de junho em Belo Horizonte, Minas Gerais. O encontro, cujo tema foi “Agroecologia e Democracia, unindo Campo e Cidade”, aconteceu nas dependências da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE) e reuniu aproximadamente 200 pessoas representando todas as regiões do Estado.

De acordo com o antena estadual e coordenador do encontro, Giovanni Xenofonte, a proposta durante esses dois dias foi entender como a Agroecologia pernambucana está sendo construída e desenvolvida nos territórios, assim como escolher a delegação que irá representar Pernambuco na etapa nacional. “Precisávamos saber como as nossas ações estavam acontecendo em cada região, assim como o que ainda nos impede de avançar, além de abrir espaços para discutir as nossas estratégias de resistência e fortalecimento”.

Os números da etapa estadual impressionaram. Das quase 200 pessoas que participaram, 54% eram agricultores e agricultoras e comunidades tradicionais. As juventudes (indígenas, rurais e urbanas) representaram 25% do total de inscritos e inscritas. As mulheres foram a maioria, contabilizando 58%. Além disso, outros cinco povos indígenas e mais cinco quilombolas reforçaram a participação.

A etapa nacional do ENA em Belo Horizonte, será composta por nove eixos temáticos que serão os geradores do evento. Pensando nisso, a organização da etapa estadual separou alguns desses eixos para discutir com os participantes e as participantes do encontro. As rodas de diálogos abordaram as Mudanças Climáticas e Água: Conservação e democratização do acesso e gestão; a Construção do conhecimento agroecológico; a Comunicação; Cultura; Educação no Campo e a importância do papel das Mulheres, feminismo, economia feminista e combate à violência.

Com relação a este último eixo, a educadora social e integrante da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, um dos coletivos parceiros da Diaconia, Ana Cristina Nobre, destacou que as mulheres são peças fundamentais para a construção da Agroecologia. “Sem o feminismo não há Agroecologia. Enquanto feministas, nós estamos aqui para defendermos a nossa participação cada vez mais ativa na construção dos processos, reafirmando nossa luta. Temos uma rede que atualmente conta com mais de 400 mulheres agricultoras e artesãs distribuídas em 28 grupos produtivos espalhados em 11 municípios. Participar desta mobilização e também da etapa nacional do IV ENA e assegurar nossa autonomia, uma vez que queremos uma agroecologia inclusiva, onde as mulheres tenham oportunidades tanto no campo quanto na cidade, na produção e nas políticas públicas”.

Mulheres representaram mais da metade dos participantes do Encontro Estadual preparatório para o ENA

A educadora ainda fez um alerta sobre a violência contra a mulher. “Muitas mulheres ainda são violentadas nos seus subsistemas de produção. É primordial utilizarmos estes espaços para denunciar. Não podemos nos calar”. Para a coordenadora da Casa da Mulher do Nordeste, Graciete Santos, Pernambuco irá levar para a etapa nacional do ENA a força dessas mulheres. “Este encontro vem reforçar a agroecologia enquanto prática e pensamento e que precisa alargar sua compreensão de democracia. A força das mulheres e das juventudes irão provocar essas estruturas de poder nas suas diversidades, o que é um desafio para nós. Essas forças se convergem”, disse.

Por falar em juventudes, as representações juvenis participaram da etapa estadual com muita força. Uma comissão muito bem representada fez ecoar pelo vale da UAST mensagens de resistência e luta. “Precisamos lutar pelo nosso direito de existir. Trouxemos para esta etapa estadual e vamos fazer chegar à nacional nossas ideias concretas de trabalho, vivência e de identidade. Precisamos garantir nossa permanência no campo com mais dignidade, direitos garantidos, políticas públicas voltadas aos jovens e às jovens para que nos tornemos sujeitos de direitos”, explicou Sandreíldo José dos Santos, coordenador da Pastoral da Juventude Rural (PJR) do Sertão do Pajeú. A entidade atua em 10 regiões de Pernambuco, congregando mais de 200 jovens entre indígenas, quilombolas, rurais, urbanos e urbanas, LGBT, negros, negras, camponeses e camponesas.

No aspecto político, a etapa estadual rumo ao IV ENA foi decisiva a começar pela escolha da região para sediar o evento, o Sertão do Pajeú. Quem explica melhor é o coordenador da Diaconia no Pajeú, Afonso Cavalcanti, que também compôs a comissão de infraestrutura do encontro. “A escolha do Sertão do Pajeú se deu por conta da dinâmica que o território tem no processo de denúncia do que está acontecendo com a caatinga e também por ser uma região estratégica que nos possibilitou reunir o maior número de organizações. Um dos pontos que destacamos dentro dos eixos temáticos foi a questão da água na perspectiva do ambiente e como meio de vida para as populações rurais e urbanas. Discutimos este recurso natural como acesso, conservação e democracia. Foi um debate muito rico que nos possibilitou refletir com muita clareza a realidade que vivenciamos em todo Estado”.

Para o coordenador da Articulação do Semiárido (ASA PE), Alexandre Pires, o principal desafio que será levado ao IV ENA é refletir o momento atual, considerando toda a conjuntura política e social e que trajetória foi percorrida até aqui. “Destacamos como nosso marco histórico a Constituição Federal, de 1988, que nasceu com o propósito de garantir uma série de direitos e que de lá para cá vem sendo violentamente esfacelada, a exemplo do reconhecimento dos povos indígenas como um povo original. O ENA para nós é um espaço para a construção coletiva, onde as pessoas precisam se olhar, marcarem território e lutar pela garantia e defesa dos seus direitos na perspectiva da Agroecologia”.

A última etapa do encontro estadual foi a escolha dos delegados e delegadas que irão representar Pernambuco no ENA Nacional. A escolha se deu democraticamente atendendo aos critérios da organização do encontro nacional sendo composta por 70% de agricultores e agricultoras, 30% pelas juventudes e populações tradicionais, e desse total 50% de mulheres. Essa delegação será responsável pela estruturação de três instalações artístico pedagógicas que irão retratar três regiões do Estado: os sertões do Araripe e do Pajeú, e a Mata Sul pernambucana.