Agroecologia
01.06.2018
Resistências do Semiárido
Durante o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que está sendo realizado em Belo Horizonte – MG, instalações pedagógicas levam para o evento a trajetória de luta e resistência de suas regiões

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Por Indi Gouveia - Comunicadora popular do Semiárido mineiro

A atividade terminou com uma grande ciranda puxada pelas mulheres | Foto: Indi Gouveia

“Esse é um momento muito importante para nós, 33 territórios estão representados no IV ENA através das instalações pedagógicas. Esse é um momento pra gente poder se encontrar e se fortalecer ainda mais ”, explica Alexandre Pires, da ONG Centro Sabiá, do Núcleo Executivo da ANA e também coordenador da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Junto com Helen Santa Rosa, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e comunicadora popular do Semiárido Mineiro, facilitaram a reflexão da tenda Caatinga III, uma das instalações pedagógicas do encontro.

Os territórios do Pajeú (PE) e do Semiárido Mineiro (MG) foram representados pelos rios Pajeú, São Francisco e Jequitinhonha, trazendo diferentes elementos culturais dos povos que habitam esses lugares. Durante a construção dos territórios agroecológicos, os agricultores, agricultoras, representações das juventudes e dos povos e comunidades tradicionais foram convidadas a falar as impressões que tiveram acerca da instalação que refletiu cores, saberes e sabores de cada região.

“Esta instalação traz essa responsabilidade de nós agricultores continuarmos fazendo o que a gente gosta que é plantar sem agrotóxicos. A gente não faz isso com muito esforços até porque a gente nasceu com agroecologia, é só usarmos o nosso conhecimento tradicional que iremos cuidar da saúde. ”, diz Maria José, quilombola do sertão pernambucano.

Os sons dos diferentes locais representados também ecoaram pelo espaço. As canções puxadas pelos participantes retrataram a vida no campo, a importância da agroecologia e o cuidado com os bens naturais para o bem viver de todos, como a letra puxada pelo Caatingueiro, Geraldo Gomes: “Eu moro no meio do mato, junto da mãe natureza, desfrutando o perfume das flores, o ar puro e muita beleza.”.

A instalação mostrou a riqueza de expressões e processos de resistências das regiões retratadas, que foram reforçadas com as falas de todos. Durante os relatos foi possível perceber as diferentes realidades e a importância da agroecologia, independente do território.

Os participantes fizeram uma série de denúncias como a privatização da água por parte de grandes empreendimentos e o uso indiscriminado desse bem comum pelas monoculturas, que além de destruir nascentes acabam com biodiversidade.

Maria de Lourdes Souza Nascimento, Caatingueira do semiárido mineiro, denunciou a mineração como um dos empreendimentos que vem destruindo os territórios, junto com o agronegócio e as monoculturas. Para ela é preciso resistir ao discurso desenvolvimentista que apenas traz destruição ”A mineração é projeto de morte que vem para nos agredir, ela não vem para nos beneficiar, precisamos denunciar e resistir juntos pelo nosso bem comum que é a água. ”, afirma.

O papel das mulheres e da juventude também foi destaque durante todo o debate, assim como a importância das redes para o fortalecimento da resistência. A experiência da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma das que vem fortalecendo a luta dos povos do campo: “Eu acho que uma das grandes ações que apareceu no nosso meio e nos dá bagagem para continuar essa resistência, unindo estados e o país, é a ASA, que dialoga mesmo com pessoas que não são do Semiárido, mas que se juntam a gente para debater a questão dos recursos hídricos”, diz Lourdes. “A ASA tem dado essa liga para nós sermos fortes e resistir, dando condições para nós de ter água de qualidade para beber e produzir sem o uso de agrotóxicos.”, completa a agricultora.

Além do Pajeú e do Semiárido Mineiro, outros territórios da Caatinga estiveram em destaque nas instalações pedagógicas do IV ENA: Médio São Francisco (BA), Chapada do Araripe (PE), Chapada do Apodi (RN) e Polo da Borborema (PB).