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Família Lermen mostra como se dedicar a várias culturas garante alimento e renda

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O cultivo diversificado e o manejo ecológico do solo são formas que a família encontrou para mostrar que só respeitando a natureza, o ser humano poderá colher bons frutos | Foto: Elka Macedo/Arquivo Caatinga

O sistema produtivo da família Lermen está localizado na Serra dos Paus Dóias na Chapada do Araripe, a cerca de 36 km da cidade de Exu, no sertão pernambucano. Embora praticamente cercado por propriedades que trabalham o monocultivo do café, da mandioca e criação de bovinos, a propriedade da família é uma das referências mais marcantes em produção agroecológica e Sistemas Agroflorestais (SAF’s) da região. A parceria do casal Silvanete e Vilmar gera frutos e renda para a toda família. Junto com os filhos Jeferson, Pedro, Fernanda e a pequena Débora, o casal se divide para dar conta do manejo da agrofloresta, cuidado com os animais (galinhas e abelhas), colheita de frutas, extração de mel de abelhas nativas, beneficiamento de frutas e extração de óleos essenciais, em sua maioria do extrativismo.

O casal sempre acreditou na agroecologia como forma de ajudar o planeta, garantir alimento, renda e qualidade de vida para a família. “Quando nós chegamos aqui a gente tinha clareza de que iria trabalhar a agroecologia e que a nossa produção seria beneficiada. E também viemos com a perspectiva de que essa construção seria conjunta e já tínhamos claro que pra isso acontecer, teríamos que ter uma série de parcerias, desde os agricultores da comunidade, até a associação, o sindicato, o Caatinga, Chapada e as Universidades”, afirma Silvanete, lembrando dos sonhos da família ao chegar no território.

O armazenamento e a boa gestão da água, o cultivo diversificado e o manejo ecológico do solo são formas que a família encontrou para mostrar que só respeitando a natureza, o ser humano poderá colher bons frutos na atualidade e no futuro. Na propriedade, a água é armazenada em cisternas de placas que foram conquistadas por meio dos Programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra Duas Águas (P1+2) desenvolvidos pela Articulação Semiárido (ASA), em parceria com as organizações Caatinga e Chapada. Além de mais 2 cisternas de 76 mil litros cada construídas com o crédito do PRONAF via Banco do Nordeste.

Essas tecnologias sociais estão permitindo que a família consiga armazenar a água, pois mesmo em anos de chuvas muito boas, cuja média anual pode ultrapassar os 1200 milímetros, os/as agricultores/as têm que conviver com falta desse recurso. Isso se deve à característica do solo que é arenoso e profundo, o que dificulta o armazenamento da água em reservatórios tradicionais, conhecidos como barreiros. A região da Chapada do Araripe, na comunidade, não possui riachos, rios ou poços profundos para o acesso à água.

Mesmo com as adversidades, na propriedade de 10,3 hectares, a família cultiva milho, feijão, macaxeira, fava, andu, hortaliças, legumes, palma, frutas cultivadas e frutas nativas como a murta, maracujá da caatinga, jatobá e o cambuí. Um amplo banco de sementes que são socializadas com os visitantes ou comercializadas. Além disso, criam abelhas nativas e exóticas, galinhas e cultivam mudas de árvores frutíferas e nativas para serem transplantadas na agrofloresta e comercializadas. Na propriedade está construída a sede da Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia) que é o espaço de beneficiamento da comunidade. Com várias tecnologias associadas à Sede, como biodigestor, sala de extração de óleos essenciais, jardins filtrantes, fossa séptica biodigestora e viveiro de mudas. Fruto da articulação e participação social das famílias e do acesso às políticas públicas.

“Nos últimos anos o nosso foco foi voltado para a questão da água, para a formação de homens, mulheres e jovens, em especial jovens e mulheres e também a escolarização. Temos três jovens fazendo Curso Superior em Processos Químicos em Minas Gerais. Temos realizados capacitações em agroflorestas, recebemos muitos intercâmbios em níveis locais e chegando até os internacionais”, afirmou Vilmar Lermen. Em 2017, cerca de 3 mil pessoas visitaram a experiência da família e da associação.

São muitas as inovações que a família implantou, mas a estiagem que afetou a região durante os últimos sete anos trouxe prejuízos como explica Vilmar: “Temos dificuldades, temos desafios, depois de sete anos de seca a produção caiu bastante e o rendimento nosso e de outras famílias da comunidade também. Porém, tivemos outras conquistas como equipamentos e veículos associados à agroindústria da associação para que a gente possa executar as nossas atividades”. Já Silvanete aponta as dificuldades em ter parceiros/as que contribuam com o fortalecimento do beneficiamento e escoamento da produção. “O sistema agroecológico hoje passa a ser um desafio não só para as famílias agricultoras, mas ela é um desafio maior para aqueles parceiros que estão conosco e que consigam compreender e sentir essa necessidade nossa, de agricultor que está lá no campo”, afirma.
Além das tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva, a família tem um bioágua e um pequeno sistema de irrigação, implantado recentemente. Para expor os produtos da sociobiodiversidade e trocar experiências, eles participam de feiras, intercâmbios, encontros, seminários, congressos e cursos.