Profetas da chuva
10.01.2019 PI
Piauí realizará XI Encontro dos Profetas da Chuva

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Por Neto Santos - comunicador popular do Centro Mandacaru

Profetiza da chuva durante encontro de profetas | Foto: Neto Santos

“Não é à toa que quem mora no interior do Semiárido Brasileiro adora correr pro quarto de casa, ficar deitado e em silêncio contemplar o som no telhado, enquanto a chuva cai”, afirma a antropóloga Adeodata Maria dos Anjos, integrante da equipe do Centro Mandacaru, no Território dos Cocais, região norte do Piauí. A mesma Entidade que há 10 anos realiza o encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva da região. A organização tem a tradição de realizar o evento sempre após a primeira lua cheia de janeiro, que para muitos observadores/as da Natureza, é um forte sinal de como será o inverno na região. Porém, devido o cheio da lua deste ano ocorrer apenas dia 21, o evento foi antecipado para o dia 12. O encontro acontece na cidade de Pedro II localizada a 200 km da capital, Teresina.

O encontro dos Profetas da Chuva no território teve início a partir de um trabalho universitário de Adeodata dos Anjos, mas ganhou tanta atenção que o Centro Mandacaru passou a realizá-lo uma vez por ano, passando de evento local para regional e desde 2018 passou a ter abrangência estadual com a participação de outras organizações integrantes do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido (FPCSA) que é a Articulação Semiárido Brasileiro, ASA, Piauí. Neste ano, o evento deve contar com a participação de profetas da região sul do Estado.

Adeodata dos Anjos costuma dizer que o encontro dessas pessoas, na sua totalidade, agricultores e agricultoras ultrapassa a questão de acertar ou errar as previsões de chuvas. “Aqui nós motivamos a sabedoria popular dos/as agricultores/as e buscamos valorizar a relação e harmonia que essas pessoas têm com a Natureza. Eles/elas observam, anotam e compartilham entre eles o comportamento de determinadas plantas, o cheio da lua, a Estrela Dalva na madrugada e tantos outros sinais. Esses gestos são riquezas difíceis de mensurar valores, aliás, não têm preço”, afirma Adeodata.

E o comentário da antropóloga não é suposição. Recentemente, seu Antonio Miguel, sábio agricultor e um dos profetas participantes do encontro desde a primeira edição, disse durante uma entrevista à rádio comunitária local, Matões FM, o que o evento significa para ele. “Eu passei a me sentir outra pessoa, passei a entender o quanto a população gosta de ouvir nossas histórias. Antes do encontro dos profetas eu ouvia bastante as pessoas dizerem, que não sabíamos de nada. Mas hoje eu compreendo que tem muito mais gente que nos dão atenção do que aquelas que não concordam com o que fazemos. As pessoas vão para o pé do rádio pra ouvir o que temos a falar e isso é muito bom”, diz Seu Antonio.

Uma metodologia interessante utilizada na organização do evento é o fato de a cada ano, o evento ser realizado num local diferente. Quase sempre numa propriedade onde tem quintal produtivo e outras iniciativas agroecológicas. A ideia do Centro Mandacaru é incluir na programação as iniciativas de convivência com o Semiárido e promover o fortalecimento das ações e técnicas de convivência com o lugar. Este ano o encontro acontece na fazenda Santa Ângela, localidade que possui alguns projetos desenvolvidos por alunos da Escola Família Agrícola Santa Ângela – EFASA. Lá será apresentado ao público o projeto agroflorestal desenvolvido no local. O evento é aberto à participação popular.

Para obter um maior alcance de público, a Entidade promotora do encontro tem firmado a parceria com a rádio Matões FM para cobertura e transmissão do evento. O objetivo é que o conhecimento partilhado pelos profetas e profetizas da chuva cheguem a um maior número de pessoas.  O XI Encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva no Piauí tem a realização do Centro de Formação Mandacaru de Pedro II com o apoio da rádio comunitária Matões FM, a Fundação Santa Ângela e a colaboração das organizações que assim como o Mandacaru integram o FPCSA.