Parceria
19.02.2019 PE
Em visita ao Brasil, comitiva da Fundação Avina considera estratégica parceria com a ASA

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Por Elka Macedo - ASACom

Grupo visita propriedade do agricultor Tone Cristiano em Bom Jardim | Foto: Elka Macedo

Como as ações da Articulação Semiárido Brasileiro em parceria com a Fundação Avina e outras organizações contribui para a transformação de vida das populações rurais do Semiárido? A questão foi mote da conversa entre membros da Avina e da ASA nesta segunda-feira (18). A comitiva da Fundação veio ao Brasil conhecer as ações que estão sendo executadas com aporte da instituição e contou com a presença de Gabriel Baracatt, diretor executivo (Bolívia), Guillermo Scalan, Diretor Programático (Chile), Valéria Scorza, gestora regional de inovação política (México), além de três integrantes da Avina no Brasil, Telma Rocha, Fernanda Ferreira e Aparecida Gaspar. A parceria que já existe há cerca de sete anos, tem garantido que atividades que promovem a sustentabilidade, o direito humano à água e a convivência com o Semiárido e minimizam os efeitos das mudanças climáticas, sejam garantidas.

O dia teve início com uma reunião no Recife, na sede da Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), entidade jurídica que faz a gestão física e financeira dos programas da ASA. Nesta ocasião, Alexandre Pires, Valquíria Lima e Marcos Jacinto, membros da coordenação executiva da ASA fizeram um breve relato sobre a criação da ASA e dos programas que são base da organização: Um Milhão de Cisternas (P1MC), Uma Terra e Duas Águas (P1+2), Cisternas nas Escolas e Sementes do Semiárido. Falou-se sobre o contexto em que cada Programa foi criado, seus objetivos e desafios, além da estratégia de comunicação popular e da influência da ASA para a mudança do paradigma do combate à seca para a convivência com o Semiárido.

A coordenadora da ASA pelo estado de Minas Gerais, Valquíria Lima, explanou sobre a importância da parceria com a Avina. “A aliança que a gente fez com a Avina significa um fortalecimento político muito grande, seja de levar esta experiência [da ASA], seja de aprender com outras experiências da América Latina”. O coordenador da ASA pelo estado de Pernambuco, Alexandre Pires, complementou: “Ter alianças como a da Avina, como a da FAO e com outras organizações e redes nos ajuda a reafirmar o valor do que construímos. Pelo sentido da nossa existência, ter parcerias como esta é importante”.

Felizes com o fruto da ação que apoiam, os membros da Avina também manifestaram a relevância de manter uma boa relação com a ASA. “A ASA é, e segue sendo, nosso parceiro histórico. É um aliado que a gente também aprende muito. Primeiro porque, para mim, esta qualidade de manter uma rede, inclusive com este pouco volume de recursos é algo inusitado e isto mostra uma qualidade diferenciada de se manter como rede. Segundo é a transformação que é efetiva [a partir das ações da ASA]. Nem o Governo pode dizer que não houve transformação neste território [Semiárido] e a ASA tem uma contribuição. É um parceiro que agrega, que traz resultado, que tem experiência e encanta qualquer articulação que a gente trouxer. A ASA também me ensinou a ressignificar minha relação com minha região”, avaliou Telma Rocha, gerente programática da Avina no Brasil.

A fim de conhecer a ação da Articulação na base, a comitiva formada por nove pessoas, entre membros da Avina e da ASA, percorreram cerca de 200 km da capital pernambucana até o Sítio Feijão, localizado na zona rural do munícipio de Belo Jardim (PE). Lá, a Associação dos/as Agricutores/as Agroecológicos de Bom Jardim (Agroflor), organização integrante da rede ASA, acompanha as experiências das famílias agricultoras, entre elas as implementações de tecnologias sociais.

Na comunidade, a comitiva pôde ver de perto as tecnologias implantadas – cisternas de consumo e produção; viveiros de mudas, canteiros, sistema agroflorestal, casa de sementes e outras – e o resultado desta ação na vida das famílias agricultoras e dos coordenadores da Agroflor, Tone Cristiano e Pedro Custódio. Na propriedade de Tone, ele junto com sua mãe, esposa e primos produz hortaliças no sistema agroflorestal e tem uma criação de pequenos animais numa área de aproximadamente 1,5 ha. Já no sítio de Pedro, os 2,5 hectares de terra são utilizados para manutenção de uma agrofloresta; cultivo de frutas, verduras, legumes e tubérculos, além de criação de pequenos animais. Na propriedade estão construídas uma cozinha comunitária (unidade de beneficiamento devidamente estruturada) e um banco de sementes comunitário.

“A cisterna não é só guardar água, tem todo um histórico de empoderamento da mulher, do jovem, do homem do campo. E(,) nos últimos 10 anos, com uma maior abertura do governo para estas políticas houve uma mudança no campo muito grande. As cidades estavam sofrendo com a crise hídrica e o agricultor que tinha cisterna estava com água em casa. A garantia de água para consumo da família é a coisa mais importante, através da cisterna de 16 mil litros e depois com o P1+2 e as capacitações. E isso dá suporte para que a família tenha, primeiro segurança alimentar e nutricional e depois uma renda”, destaca o jovem agricultor, Tone.

Ao final da visita, o diretor de operações da Fundação Avina no Chile, Guillermo Scalan, salientou o quanto o trabalho da ASA é sistêmico e eficaz, visto o impacto positivo na vida das famílias, sobretudo em relação ao acesso à água como direto humano básico. “Para nós, esta é uma aliança muito estratégica, não há como mencionar o valor que tem o que faz a ASA e é importante que a Avina siga colaborando com a ASA porque os problemas com água são problemas globais, não é um problema só do Semiárido do Brasil. E a solução vem da ação tecnológica e social de onde depois de muita experiência, que a inovação tem que relacionar-se com a história social, capacitação, compreensão, identidade e cultura local. E tudo isso faz com que a ASA tenha um profissionalismo e um respeito para com as comunidades como poucas organizações o fazem”, avaliou.