Por João Suassuna*
Há cerca de uma década estamos envolvidos com as questões do rio São Francisco, notadamente com o projeto de transposição de suas águas. Durante esse período, chegamos à conclusão de que existe uma enorme desinformação quanto ao tratamento das questões ambientais do Nordeste, principalmente da sua região semi-árida e, o que é pior, estão deliberando as ações de desenvolvimento na região com base nessa desinformação.
Na nossa ótica, o caso da transposição do rio São Francisco é emblemático. Várias foram as denúncias que já fizemos sobre as agressões praticadas ao ambiente natural por onde corre o rio, sem que estas, no entanto, tenham sido levadas a sério pelas autoridades.
Na tentativa de sempre mantermos o leitor informado, passamos a relatar mais algumas informações, as quais foram recentemente socializadas nos meios de comunicação. Referimo-nos à incapacidade volumétrica do rio para atendimento aos diversos usos a que é submetido, principalmente aqueles referentes à geração de energia e à irrigação que se pretende realizar fora de sua bacia hidrográfica, em áreas do polígono das secas.
Com relação aos problemas existentes na geração de energia, além daqueles que já socializamos no artigo As indefinições da geração de energia no Nordeste brasileiro, trazemos à baila outras inquietações do professor e hidrólogo José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, da Universidade Federal de Campina Grande, ao fazer comentários na internet, sobre o projeto de transposição do rio São Francisco, demonstrando que os diagnósticos até então realizados estão eivados de equívocos e impropriedades, referindo-se, principalmente, àqueles relacionados ao uso indiscriminado das vazões de base proveniente dos principais aqüíferos existentes na bacia do rio. Em seus comentários, Patrocínio exemplifica o uso das vazões do Urucuia, aqüífero responsável por mais da metade da vazão de base do Velho Chico, a qual registra atualmente, a jusante de Sobradinho, cerca de 1.200 m³/s.
O que têm nos preocupado é que a vazão média regularizada do rio São Francisco vem diminuindo paulatinamente a cada ano, o que julgamos ser uma decorrência dos usos exaustivos que estão sendo feitos nos aqüíferos existentes em sua bacia, conforme foi relatado pelo professor Patrocínio.
Projetada inicialmente para regularizar a vazão média do rio em cerca de 2.060 m³/s, a represa de Sobradinho, no momento, regulariza uma vazão de cerca de 1.850 m³/s em sua foz. Essa diferença para menor é resultado, segundo a nossa ótica, dos usos múltiplos que já estão sendo praticados em sua bacia, tanto na irrigação como no abastecimento das populações.
Essa nossa afirmação é fácil de entender, porquanto na abrangência do aqüífero Urucuia existem extensas áreas irrigadas em território bai
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