Semiárido
25.07.2007
Água de beber e água de comer

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Por Onaur Ruano*

A alimentação é direito fundamental, inerente à dignidade da pessoa humana, devendo o Poder Público adotar as políticas e ações para promovê-la. No Brasil, o acesso à alimentação adequada, incluindo a água, passou a ser reconhecido como direito desde 15 de setembro de 2006, com a sanção, pelo Presidente Lula, da  Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN).
 
O Semi-Árido brasileiro é uma das regiões do País onde mais se evidencia a insegurança alimentar e nutricional. Tal situação resultou de décadas de clientelismo e, portanto, de políticas ineficientes para a criação de sistemas de captação e distribuição de água para a população privada desse direito básico.
 
Desde 2003, o Governo Federal vem investindo no Semi-Árido, em parceria com governos estaduais e municipais e organizações da sociedade civil, representadas pela Articulação no Semi-Árido (ASA), visando assegurar água potável para famílias rurais pobres, difusas, sem acesso a redes de abastecimento de água potável. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) destinou, nesse período, mais de R$ 278 milhões, tendo já alcançado mais de 200 mil famílias com a construção de cisternas de placas para armazenamento de água de chuva.
 
A cisterna de placas é uma das soluções mais testadas para armazenamento de água de qualidade para suprimento da família na estiagem. Este reservatório, que capta a água que escorre do telhado por meio de calhas, permite o armazenamento de 16 mil litros de água, suficiente para uma família de cinco pessoas beber e cozinhar durante oito meses do ano. Como nesse espaço de tempo sempre chove um pouco, a cisterna consegue armazenar água suficiente para o consumo da família durante todo o ano.
 
A água potável para consumo humano é essencial para a vida, mas insuficiente para garantir segurança alimentar e nutricional. Assim, seguindo os passos do sucesso da primeira experiência, onde o Governo Federal apóia e fortalece a viabilização de soluções do saber popular e com parcerias sólidas, chega a hora de um novo passo: propiciar o acesso à água para produzir alimentos.
 
Assim como as cisternas, existem outras tecnologias testadas e adotadas pelos moradores do Semi-Árido que visam aproveitar a pouca disponibilidade hídrica da região, como as cisternas calçadão, adaptadas para roça, as barragens subterrâneas e os tanques de pedra, entre outras.
 
A Articulação no Semi-Árido (ASA), inspirada nestas experiências, criou a proposta P1+2 - Programa Uma Terra e Duas Águas. Ela visa intensificar, consolidar e irradiar experiências de uso destas tecnologias sociais de acesso e manejo produtivos da terra e das águas. Tudo a partir de práticas sociais já existentes, por meio de um processo dinâmico de formação e intercâmbio de experiências. 
 
A esta ¿segunda água¿, nós chamamos carinhosamente de água de comer. Essas tecnologias descentralizadas vêm se apresentando como solução para o aproveitamento da água de chuva na produção de alimentos para o consumo familiar. A ¿s