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06.01.2016
Cimi manifesta preocupação com intolerância crescente contra indígenas
Menino de 2 anos foi assassinado na rodoviária de Imbituba (SC)

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Por Conselho Indigenista Missionário - Regional Sul*

Carta do Cimi manifesta preocupação com a intolerância que se propagada no Sul do País contra indígenas

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) publicou nota sobre o assassinato do menino kaingang de 2 anos, Vitor Pinto, em que manifesta preocupação com a intolerância que se propagada no Sul do País contra indígenas, insuflado em discursos de políticos conservadores ou ruralistas, reproduzidos nos meios de comunicação.

Um acusado de 23 anos está preso desde o dia 1º e segundo declarou à imprensa regional a Polícia Civil de Imbituba (SC), onde o crime aconteceu, as imagens de câmeras da rodoviária confirmam a autoria – ainda não há informações sobre reconhecimento do preso por testemunhas, nem sobre a motivação. Este é o segundo preso pelo crime ocorrido na quarta, dia 30 de dezembro, tendo o primeiro detido sido libertado por não ter sido reconhecido por 3 testemunhas, entre elas a mãe do menino, Sônia da Silva, e um taxista. A nota do Cimi é anterior à prisão do dia 1º.

Nota do Cimi:

"O Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, vem a público manifestar sua indignação com o cruel assassinato de Vítor Pinto, criança Kaingang de dois anos de idade. O crime ocorreu na rodoviária de Imbituba, município de Santa Catarina.

Vitor estava sendo amamentado pela mãe, Sônia da Silva, quando um homem se aproximou, acariciou seu rosto e, com um estilete, o degolou. Enquanto a mãe e o pai – Arcelino Pinto – desesperados tentavam socorrer a criança, o assassino seguiu caminhando pela rodoviária até desaparecer.

Vítor faleceu em um local que a família Kaingang imaginava ser seguro. As rodoviárias são espaços frequentemente escolhidos pelos Kaingang para descansar, quando estes se deslocam das aldeias para buscar locais de comercialização de seus produtos. A família de Vítor é originária da Aldeia Kondá, localizada no município de Chapecó, Oeste de Santa Catarina. Vítor estava na rodoviária com os pais e outros dois irmãos, um de seis anos e outro de 12.

"Trata-se de um crime brutal, um ato covarde, praticado contra uma criança indefesa, que denota a desumanidade e o ódio contra outro ser humano. Um tipo de crime que se sustenta no desejo de banir e exterminar os povos indígenas"

Trata-se de um crime brutal, um ato covarde, praticado contra uma criança indefesa, que denota a desumanidade e o ódio contra outro ser humano. Um tipo de crime que se sustenta no desejo de banir e exterminar os povos indígenas.

Primeiro Suspeito

A Polícia Militar da região deu por desvendado o fato em poucos minutos. Prendeu, num bairro pobre, um presidiário, que usufruía do benefício do indulto de Natal e Ano Novo. Aparentemente tudo estava solucionado. Mas na delegacia da Polícia Civil de Imbituba o delegado ouviu o pai e a mãe de Vítor, e ainda outra testemunha, um taxista que estava no local na hora do crime. O homem indicado pela Polícia Militar como autor do assassinato não foi reconhecido pelas três testemunhas.

Informações colhidas na delegacia por um advogado que acompanhou a família Kaingang dão conta de que esse cruel assassinato pode estar relacionado a ações de grupos neonazistas ou de outras correntes segregacionistas, que difundem o ódio e protagonizam a violência contra índios, negros, pobres, homossexuais e mulheres.

O Conselho Indigenista Missionário manifesta preocupação com o clima de intolerância que se propaga, na região Sul do país, contra os povos indígenas. Um racismo – às vezes velado, às vezes explícito – é difundido através de meios de comunicação de massa e em redes sociais. Ocorrem, com certa frequência, manifestações públicas de parlamentares ligados ao latifúndio e ao agronegócio contrários aos direitos dos povos indígenas e que incitam a população contra estes povos. Em todo o país registram-se casos de violência e de intolerância contra indígenas e quilombolas, manifestadas concretamente nas perseguições, nas práticas de discriminação, na expulsão e no assassinato de indígenas. Nestes últimos dias pelo menos cinco indígenas foram assassinados no Maranhão, Tocantins, Paraná e Santa Catarina.

O Conselho Indigenista Missionário espera que esse crime hediondo seja efetivamente investigado e que, não se cometam erros ao tentar dar uma resposta imediata à sociedade, imputando a um inocente crime que não praticou.

Chapecó, SC, 31 de dezembro de 2015.

 

* Com informações do Cimi, Zero Hora, G1 e A Notícia