Mulheres
28.04.2016
Pesquisando e enfrentando a desigualdade
Dados alertam caminhos para diálogos e ações pela equidade de gênero

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Por Daniela Bento - comunicadora popular da ASA Sergipe

Daniela Bento participa de rodas de diálogo sobre diversidade sexual pelo MPA em Sergipe | Foto: Hugo Lima

Durante o Encontro de Avaliação do Programa Cisternas nas Escolas, realizado nos dias 13 e 14 de abril de 2016, em Gravatá (PE), foi aplicado um questionário entre as pessoas participantes com o objetivo de levantar dados referentes às relações de gênero no Semiárido, no âmbito das instituições envolvidas no Programa. O Encontro contou com a participação de 72 pessoas, representando 30 organizações da ASA presentes nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. 

Embora apenas 38% das pessoas participantes tenham respondido, a pesquisa revela algumas questões relevantes sobre relações igualitárias entre os gêneros. Um dos primeiros pontos a ser observado é a desinformação entre a maioria das pessoas entrevistadas tem na identificação sobre o que é sexo, gênero e orientação sexual. Apenas 8 % dos entrevistados e das entrevistadas responderam corretamente sobre a que sexo pertence, enquanto que 92% não souberam identificar. Quanto ao gênero e orientação sexual, 25% e 44 %, respectivamente, não souberam se identificar.

Por mais que possam parecer irrelevantes, esses dados acendem um alerta, ao considerarmos que as organizações sociais devem proporcionar o debate em suas bases. Porém, o que se revela é que boa parte dos agentes desconhecem definições básicas e preliminares pertinentes ao debate inclusivo de gênero. Em relação às chefias diretas, podemos observar que 60 % das chefias são de homens e 40 % de mulheres. As chefias quanto ao grau de instrução em comparação aos/as subordinados/as de gênero feminino tivemos a seguinte realidade: 44% tem formação superior, enquanto que 40% inferior. Observou-se que nesse caso, o tempo de casa, geralmente acima de cinco anos, aumenta as chances de ocuparem cargos de chefias. Aqui vale destacar que a pesquisa não considerou raça nem geração.

Em relação às questões homoafetivas, a pesquisa revelou que 4% dos/as participantes possuem orientação homo. Outro dado é que 28% das pessoas que formam as equipes de trabalhos das instituições são homo autodeclaradas, enquanto que para 72% não há pessoas homo em seus quadros.
No tocante a violência sexual e assédio moral, dentro e fora do espaço do trabalho percebe-se que as mulheres continuam sendo as maiores vitimas de acordo com os gráficos abaixo.

 

 

Ao analisarmos os gráficos I e II, duas questões relevantes nos chamam atenção. A primeira é que ainda é grande o número de relações autoritárias dentro das organizações. A outra é uma grande predominância de machismo.

Se pensarmos o papel das ONGs, no que tange sua contribuição social para a transformação desses paradigmas, percebemos que, com base no gráfico IV, ainda se percebe um longo caminho a se percorrer dentro das instituições no sentido de promover formações e sensibiliza-los para o tema.


A pesquisa lançada no Encontro é uma iniciativa da Comunicadora Popular Daniela Bento, integrante da rede de comunicadores/as da ASA e do coletivo de Gênero do Movimento dos Pequenos agricultores/as de Sergipe, visando levantar dados para uma discussão mais qualificada das relações igualitárias de gênero, no referido encontro, tomando por base uma análise da conjuntura específica dessas organizações.

Após apresentação em Gravatá, além de coleta de sugestões de movimentos presentes, como, por exemplo, o Cabelaço-PE, coletivo feminista que trabalha as questões pertinentes as mulheres negras, pretende-se aprimorar a pesquisa e aplica-la em algumas instituições do Estado de Sergipe, ligadas e não ligadas diretamente a ASA, a fim de colher dados mais próximos a realidade local que possam suscitar o debate acerca das desigualdades e violência de gênero e a urgência do seu enfrentamento.