Semiárido
11.05.2016
Dia de golpe, dias de luta!
Com o iminente afastamento da presidenta Dilma, sociedade civil se organiza para resguardar os direitos conquistados.

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Por Fernanda Cruz

Acampamento Popular e Permanente em Defesa da Democracia. | Foto: Hugo de Lima / ASACom

Hoje (11), o Senado escreve mais um capítulo na história da política brasileira ao votar pelo pedido de admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Ao que tudo indica, os 54 milhões de votos dos trabalhadores e trabalhadoras valem menos do que os interesses da burguesia e do capital. Nem mesmo a Constituição Federal, tão citada para respaldar o processo, é capaz de parar o trator conduzido pelos parlamentares em Brasília.

Os movimentos sociais, sindicais e as iniciativas populares estão firmes na luta contra o retrocesso que representa o possível governo de Michel Temer. Segundo Carlos Veras, da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PE), esse governo “que nasce de uma farsa, para atacar as conquistas sociais, não terá legitimidade do povo”.

O mês de abril e os primeiros dias de maio foram marcados por vários debates, aulas públicas, escrachos, oficinas, paralisações, entre outras atividades promovidas pela Frente Brasil Popular, em todo território nacional. Brasília, São Paulo, Porto Alegre, Belém e Recife foram algumas das capitais onde foram montados acampamentos para esse fim.

No Recife, o acampamento funcionou entre os dias 25 de abril e 10 de maio, reunindo 450 acampados e milhares de pessoas que circularam da Praça do Derby, área central da cidade, diariamente. Para Veras, esse espaço teve um simbolismo importante porque possibilitou a estruturação de comitês e deu unidade a diversas lutas. “Conseguimos acumular no debate e intensificar a luta com as paralisações, até chegarmos à greve geral”, explica ele sobre o que está colocado para adiante.

Municipalizando o debate - Em Pernambuco, também foi montado um acampamento em Ouricuri, Sertão do estado, que encerra hoje. Além disso, estão previstos o lançamento de três Comitês pela Democracia, nas cidades de São Caetano, Vertentes e Cumaru.

Esses serão os primeiros comitês da região Agreste, que funcionarão nas sedes dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. “Entendemos que não há mais volta com relação ao golpe, então vamos discutir as questões que envolvem diretamente os agricultores e agricultoras para que eles e elas entendam o impacto do impeachment nas suas vidas e nos seus trabalhos”, esclareceu Carlos Magno, do Centro Sabiá, organização da ASA Pernambuco que está articulando a criação desses espaços.

A inauguração dos comitês está prevista para amanhã (São Caetano) e para próxima semana (Vertentes e Cumaru). Em Cumaru, a inauguração será precedida de uma caminhada que reunirá cerca de 400 pessoas pela cidade. Também estão sendo chamados para esse momento as secretarias de agricultura municipais e a Igreja.

Semiárido expõe as ameaças frente a um governo Temer.

Severina Otília, agricultora de Cumaru (PE), lembra como sua vida mudou nos últimos anos quando o país tinha na presidência um governo popular. “Agora eu tenho toda condição de me manter na minha terra. Ninguém precisa mendigar mais por água e comida. Eu falo isso não só por mim, mas pela minha comunidade que é rica”.

O receio dela é o mesmo de Cícera Nunes, agricultora assentada de Serra Talhada (PE) e representante da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pernambuco (Fetape). “A conjuntura nos desafia, porque a cada momento as coisas mudam e se aproxima de um modelo mais conservador”, ela observa durante a plenária do Dia do Semiárido pela Democracia, ocorrido na última sexta (6), no Acampamento Popular e Permanente em Defesa da Democracia, na capital pernambucana.

Para Alexandre Pires, da ASA Pernambuco, a revolução vivida no Semiárido é fruto várias pessoas e grupos, sobretudo do povo da região aliado a uma proposta política emancipadora, que não deve ficar para trás. “As diversas políticas implementadas nos últimos anos, a exemplo do PNAE, PAA, Bolsa Família, Água para Todos, tiveram um impacto real na vida das pessoas que vivem nessa região, mudando não só seu modo de vida, mas também a relação que elas passaram a construir com o local de onde vêm”, ressaltou.

As mulheres, representadas pelo Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR-NE), e as juventudes, representadas pela Pastoral da Juventude Rural (PJR), também pontuaram o que está em risco para esses grupos. Para Verônica Santana, do MMTR-NE, “nunca deixamos de viver a luta de classes e isso nada mais é do que um período de acirramento”. Ela também levantou diversos elementos concretos que levariam o Semiárido a um retrocesso, caso Temer implemente o seu programa social, chamado Travessia Social (clique aqui para ler uma entrevista com ela sobre a atual conjuntura).

"Não temos mais vergonha de dizer que somos jovens do campo.", disse Luiz Filho, da PJR. | Foto: Hugo de Lima / ASACom

Esse mesmo retrocesso foi apontado por Luiz Filho, da PJR. Segundo ele, o fortalecimento do Semiárido levou a um fortalecimento das juventudes também. “Não temos mais vergonha de dizer que somos jovens do campo. Se essa Ponte para o Futuro vier – se referindo ao programa de governo de Michel Temer – seremos apenas os jovens do futuro. Queremos ser os jovens do passado, do presente e do futuro”.

Além da plenária, o Dia do Semiárido pela Democracia foi marcado pela exibição de vídeos, exposição de fotos da região e também por uma noite cultural com muito forró e xaxado.