Comunicação
13.09.2016 AL
“Não existe uma transformação como queremos que não passe pela comunicação”

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Por Ylka Oliveira - Asacom

Segundo módulo da oficina em Igaci (AL) | Foto: Ylka Oliveira/Arquivo Asacom

A comunicação como direito, como estratégia política que pode transformar mentes, comunidades, territórios, estados, quiçá um País. Em meio a uma conjuntura de mudanças sociais, econômicas e políticas, comunicadores e comunicadoras das ASAs estaduais de Alagoas e Sergipe se reuniram no município de Igaci, também no Semiárido alagoano para participarem da Oficina de Comunicação Comunitária para a Convivência com o Semiárido.

O encontro realizado nos dias 30, 31 de agosto e 1º de setembro foi promovido em parceria pela Articulação Semiárido Brasileiro, ASA Alagoas, a organização AAGRA (Associação de Agricultores Alternativos) e a Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF) em parceira com nove Unidades Descentralizadas do Nordeste, a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG).

Esse é o segundo módulo da oficina previsto pela ação do Projeto de Capacitação e Divulgação de Informações Tecnológicas em apoio à Inclusão Produtiva Rural no Plano Brasil sem Miséria (PBSM). O debate da comunicação popular e comunitária foi animado por uma programação de oficinas práticas de contação de histórias, cordel, rádio poste, antropologia da fotografia, além de visitas às experiências de famílias agricultoras. A troca de conhecimentos aconteceu entre agricultores e agricultoras, técnicos e técnicas, pesquisadores e pesquisadoras, estudantes, jornalistas e radialistas de rádios comunitárias de Alagoas. O tema da sistematização de experiências também foi destaque neste encontro.

A coordenadora de comunicação da ASA, Fernanda Cruz, enfatizou o quanto as oficinas despertam o interesse pela reação direta com a comunicação desenvolvida pela ASA. “ Precisamos que essas pessoas se apropriem dos instrumentos de comunicação para que possam contar suas histórias e práticas. Isso também fortalece outras ações dos parceiros em campo. E tem o elemento fundamental nessa parceria que é a troca do conhecimento, e não um conhecimento vertical”.

Para o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Fernando Fleury Curado, a comunicação transformadora de realidades nasce na base, nasce e resiste entre agricultores e agricultoras do Semiárido brasileiro. “Fazer uma agricultura que alimente o agricultor, a sua família e as pessoas que estão na cidade. É essa perspectiva que a gente acredita e traz. Quem é que está ali na sua prática resistindo? Quem está fazendo diferente é quem dá visibilidade às experiências. E os instrumentos de comunicação promovem mudanças”, afirma.

Visitas às experiências – Na comunidade Lagoa da Pedra, zona rural de Igaci, reside Dona Maria Aparecida Nunes da Silva, de 52 anos. A agricultora recebeu em sua casa os participantes do encontro em uma tarde de clima ameno e um pouco chuvosa. Com orgulho, apresentou seu estoque de sementes crioulas com espécies de favas, milho, feijão de arrancha, amendoim e tantos outros patrimônios livre de venenos, herdados de antepassados da família. Há 28 anos morando no lugar, criou filhos em uma época onde não havia energia elétrica e a água para beber era escassa na região.

“Naquele tempo chovia mais e a gente tinha mais necessidade de água. Hoje, chove menos mas temos água. Temos abóbora, macaxeira e batata para comer. Meu marido mesmo não gosta de comer macarrão”, conta. A variedade da alimentação na mesa da família veio nos últimos 15 anos, quando as famílias passaram a ter acesso às políticas públicas voltadas para a convivência com o Semiárido. Entre elas às conquistas da cisterna de primeira água para beber e cozinhar, do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e da cisterna-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas da ASA, o acesso à crédito através do PRONAF.

Dona Maria Aparecida também passou a atuar em cooperativas, aprendeu o beneficiamento da castanha do caju e passou a fornecer alimentos para a merenda escolar através do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Infelizmente, na atual conjuntura, algumas conquistas estão em retrocesso. O PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), por exemplo, parou de funcionar em Igaci. “Toda vez procuro a prefeitura e eles informam que até agora não voltou a funcionar”, disse.

Ao final da Oficina participantes olharam para as oportunidades e desafios que podem manter a Rede de Comunicadores/as dos semiáridos alagoano e sergipano viva e atuante. Entre as propostas apontadas estão a necessidade de promover mais encontros como esse, momentos de formação promovidos pelas entidades dos estados, o uso das mídias sociais como instrumentos fortalecedores da comunicação e a importância desta parceria com a Embrapa.