IX EnconASA
25.11.2016
Mulheres do Semiárido: organização para superar a violência e a pobreza

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Por Áurea Olímpia - GT de comunicação da ASA Paraíba

Movimentos e coletivos feministas realizaram plenária durante o IX EnconASA | Foto: Ellen Dias

Dentro da programação autogestionada do IX Encontro Nacional da Articulação Semiárido – EnconASA, que acontece na cidade Potiguar de Mossoró entre os dias 21 e 25 de novembro, agricultoras, assessoras técnicas, ativistas de movimentos e coletivos feministas realizaram na tarde desta quinta-feira (24) uma Plenária de Mulheres do Semiárido.

A atividade teve como debatedoras Maria Emília Pacheco da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Conceição Dantas, da Marcha Mundial de Mulheres, Vânia Maria do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR-PE) e Glória Araújo, da coordenação da Articulação Semiárido Brasileiro. As convidadas fizeram uma discussão sobre experiências de auto-organização das mulheres.

Conceição Dantas iniciou falando sobre a consignia da MMM “Mudar o mundo, para mudar a vida das mulheres para mudar o mundo”, partindo da ideia de que não haverá transformação na vida das mulheres se elas não se organizarem para mudar o mundo. A ativista trouxe ainda a preocupação de que as mulheres assumam o protagonismo dos processos de formação e participem das decisões sobre o uso dos recursos: “A água tem sido fundamental na vida das mulheres. Mas nós não queremos que as mulheres sejam só beneficiárias. É preciso discutir não só a água de produção, mas a água da reprodução, o que é importantíssimo também, a água da cisterna deve servir também para lavar a roupa, dar banho nas crianças”, afirmou.

Glória Araújo é coordenadora da ASA pelo estado da Paraíba | Foto: Ellen Dias

Em sua fala, Glória Araújo, falou sobre como as políticas de convivência com o Semiárido e os processos de formação impactaram positivamente a vida das mulheres: “A água representou libertação para mulheres que andavam quilômetros em busca dela. Os intercâmbios foram importantíssimos para que as mulheres possam falar das suas experiências. Quantas delas não dizem ‘eu não sabia que o que eu fazia tinha tanto valor’? A gente precisa cada vez mais de uma abordagem metodológica que traga as mulheres para a centralidade do debate, para dentro dos processos de formação. Sabemos que existem iniciativas nos estados, mas é preciso articular essas iniciativas”.

Maria Emília compartilhou a experiência vivenciada pela ANA e o processo percorrido pelas mulheres até a criação do Grupo de Trabalho (GT) que discute gênero: “Fomos discutindo cada tema a partir do interesse das mulheres, garantindo a sua participação nos encontros. As vezes a gente ouve ‘temos que introduzir o tema das mulheres’, mas temos que ter claro que mulher não é tema, elas são sujeitos políticos e há que se ter o compromisso das organizações mistas com o que representam as mulheres”.

Após as falas das debatedoras, foi aberto um espaço para debate com a plenária. Liliane de Carvalho Silva, do Movimento Ibiapano de Mulheres, de Viçosa do Ceará-CE, trouxe a preocupação com a sobrecarga de trabalho a que as mulheres ainda são submetidas, o que influencia no seu grau de participação e organização: “Para que as mulheres ocupem os espaços políticos, elas precisam ter tempo. Precisamos discutir a divisão sexual do trabalho, que interdita essa participação. Precisamos pensar em como incluir a questão do cuidado com as crianças, que seja uma responsabilidade dos homens também e pensar como trabalhamos isso nos eventos”.

Outro tema que apareceu com força nos debates foi a questão das várias formas de violência contra a mulher. Para Giselda Bezerra do Polo da Borborema, na Paraíba, os momentos de debate só com as mulheres são fundamentais para que as mulheres possam falar sobre as suas vidas e perceberem a violência, que muitas vezes está oculta ou travestida: “Precisamos fazer a mulher entender que ser chamada de burra, também é uma violência. Que se seu marido sente ciúmes não é porque ele é muito apaixonado por ela, como muitas vezes ela é levada a pensar”, disse.

A Plenária foi encerrada com a proposta de realização de um encontro de mulheres do Semiárido para 2017 que teria como objetivos valorizar o papel das mulheres e suas formas de auto-organização e aprofundar a discussão sobre as várias formas de violência sofridas, incluindo o combate intransigente à cultura do estupro, que culpabiliza a vítima pelo crime de estupro.