O Semiárido brasileiro se estende por uma faixa de 900 mil km² que abrange a Região Nordeste, o Vale do Jequitinhonha e o Norte dos Estados Minas Gerais e Espírito Santo, nessa área vivem vinte e dois milhões de pessoas, o que corresponde a 15% da população do brasileira. Embora ao longo dos anos tenha se propagado a ideia de que o semiárido é um lugar seco de solo rachado e impróprio para o convívio humano, essa região possui uma vasta diversidade ecológica e mineral. Do ponto de vista climático são identificadas duas estações bem definidas, uma seca com poucas chuvas e outra úmida onde predominam precipitações irregulares que variam entre 300 e 800 mm ao ano. A má distribuição pluviométrica na estação chuvosa e a escassez no período seco juntamente com a intensa evaporação acarretam em uma acentuada deficiência hídrica.
Diante dessa realidade oportunamente foram destinadas à região semiárida brasileira medidas de “combate à seca”, as quais além de não resolver o problema, contribuíram com a disseminação de uma falsa imagem do nordeste no imaginário popular, com isso a inexistência de infraestrutura hídrica e produtiva foi camuflada por um discurso que mostrava uma região castigada pela falta de água e um povo incapaz de inovar e criar alternativas para conviver no semiárido. As ações destinadas a essa região favoreciam a indústria da seca, onde a água e as terras se concentravam nas mãos daqueles que detinham poder.
A ineficiência das políticas de combate a seca e o sofrimento do nordestino impulsionou organizações da sociedade civil em parceria Ministério do Meio Ambiente a elaborar um projeto de formação e mobilização para convivência com o Semiárido, denominado Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), tendo a Articulação do Semiárido (ASA) como representante das organizações que participam da consolidação desse empreendimento. A ASA congrega entidades de diversos setores como igrejas, ONGs, associações, sindicatos e outras organizações comunitárias.
O P1MC é oriundo de uma tecnologia simples e eficaz desenvolvida pelo sertanejo, a construção de cisternas para captação da água das chuvas iniciada em pequenas propriedades rurais, hoje faz parte de um programa que visa mobilizar um milhão de famílias em toda região castigada pela seca. As cisternas construídas pelo programa possuem a capacidade de armazenar 16 mil litros de água, que deve ser utilizada para beber, cozinhar e escovar os dentes durante o período da seca. De acordo com técnicos da ASA a água armazenada é suficiente para abastecer uma casa com cinco pessoas durante 8 meses.
A construção da cisterna é realizada por pessoas da própria comunidade que são capacitadas no âmbito do programa. Em algumas regiões são realizados mutirões que além de construir cisternas qualificam a população local e resgatam um importante mecanismo de combate à seca que é a solidariedade. O conjunto de ações integradas pela ASA além de garantir água para segurança alimentar estimula o processo de educação que é muito importante na construção de uma vida digna e sustentável no semiárido.