Na semana passada, entidades que participam do Fórum das Entidades de Convivência com o Semiárido piauiense, ligadas a ASA (Articulação do Semiárido), estiveram reunidas em Teresina para planejar ações para 2012.

Os debates giraram especialmente em torno da polêmica desencadeada pelo fato do governo federal ter contratado empresas para instalar cisternas de plasticos ao invés das de placas na região do semiárido, com o argumento de apressar a universalização do acesso de água potável nas regiões mais secas.

Entidades do nordeste e norte de Minas Gerais protestaram contra a decisão do Ministério do Desenvolvimento Social e fecharam, em dezembro do ano passado, a ponte que liga Petrolina a Juazeiro. Com isso, o governo recuou e negociou construir 65 mil cisternas no semiárido. Destas, metade do recurso será usado este ano para construir cisternas de plásticos e a outra na construção das de placas, junto com a realização de cursos para as famílias beneficiadas pelo programa.

O coordenador da Cáritas na região de São Raimundo Nonato, Hidelbrando Pires, concedeu entrevista exclusiva ao Acessepiuai onde falou sobre a polêmica envolvendo a construção de cisternas de placas e o porquê das entidades ligadas a ASA defenderem a permanência das cisternas de placas, construídas a base de cimento e concreto em regime de mutirão.

"Para nós, do fórum da rede água, que reúne mais de 700 entidades do nordeste e norte de Minas Gerais, está muito claro que o semiárido tem jeito, dá para universalizar a água. As cisternas de placas não são apenas um instrumento de mobilização, porque a água é um movimento mobilizador, principalmente, para que o povo construa empoderamento político e assim venha conquistar outras políticas públicas", argumenta.

Por que dessa polêmica entre construir cisternas e placas e as de plásticos?

A leitura que fazemos é que o governo precisava cumprir compromissos com empresas, por outro lado o projeto "Agua para Todos", que está dentro do Programa Brasíl sem Miséria, quer universalizar água potável em todo o nordeste. Só que o governo tem o entendimento que isto precisa ser feito mais rápido e mais ágil. A ASA faz este trabalho muito bem com base numa metodologia através do Programa Cisterna, que implica na mobilização de famílias do semiárido e o MDA desconsiderou isto, inclusive fez compromisso com as empresas para comprar cisternas de plástico. A dificuldade do MDS estava aí, para nós, do fórum da rede água, que reúne mais de 700 entidades do nordeste e norte de Minas Gerais, está muito claro que o semiárido tem jeito, dá para universalizar a água, que não é só um instrumento de mobilização, porque a água é um movimento mobilizador para que o povo construa empoderamento político e assim venha conquistar outras políticas públicas. Essa é a lógica da Asa e do movimento social.

E por que então a compra das cisternas de plásticos?

A idéia é agilizar com as de plásticos, enquanto que no caso das de placas tem todo um envolvimento com a comunidade, a experiência de solidariedade, mutirão, envolvimento e ainda tem dois cursos de formação, um é o GAPA e o GRH (Gerenciamento de Recursos Hídricos) para cisternas com água potável e o GAPA é um curso para capacitar famílias, onde a água da cisterna é para experiência produtiva no quintal. Esses dois programas são gerenciados pela ASA. Todo essa lógica envolve a família, a mulher principalmente, porque em geral é a mulher que cuida do quintal.

E a durabilidade?

Entendo que a cisterna de plástico, pvc, é uma agressão ambiental. Primeiro porque ela agride o solo e segundo é que com o passar do tempo, a reação fisico-quimica da água é agredida pelo plástico, portanto pode ter consequência para a vida humana. A cistena de placas que é feita com base em cimento e concreto não se tem notícia, nenhuma pesquisa científica, que tenha contrariado e contestado a qualidade. Agora, do ponto de vista da durabilidade do plástico não tenho propriedade para falar sobre isto agora.

E a manifestação em Pernambuco?

No mesmo dia que o movimento em defesa das cisternas de placas bloqueou a ponte que liga Petrolina a Juazeiro, a ASA recebeu um comunicado do MDS, chamando para conversar. Nesta conversa o que tinha-se acordado, o que tinha sido suspenso, o recurso inclusive que era um aditivo para finalizar o programa de 2011, ainda em janeiro, todos acordos foram feitos para renovação do termo. O que acontece que o recurso agora ficou dividido, entre a ASA e o compromisso com as empresas, pois o MDS já tinha contratado a compra de cisternas de plásticos.

Então, a construção das cisternas de placa e as de plástico vão andar juntas?

Qual foi o ganho político? A ASA e as entidades que trabalham ligadas a ela garantiram a continuidade do programa, em 2012 está garantido. Nossa insistência não é somente para garantirmos a construção de cisternas, nosso entendimento é que a água é um direito e não um favor e não existe nenhum favor no Programa Brasil Sem Miséria. Existe uma idéia emergencial que é uma política de governo para acelerar o processo para garantia da água.

Quais são as metas para construção de cisternas?

Não houve redução radical para construção de cisternas de placas, considero que a reivindicação das bases garantiu a proposta da forma como havia sido apresentada em 2011. Este ano já estão garantidos R$ 138 milhões para os dois programas, o que deverá alcançar 65 mil cisternas na região nordeste e norte de minas gerais, área de abrangência da Asa.

No Piauí quantas serão?

Não sei dizer porque é o MDS que está está estabelecendo as metas. No novo termo a ser assinado essas metas serão definidas. O que está garantido são os R$ 138 milhões para o nordeste e região norte de Minas Gerais. Destes, R$ 65 milhões para cisterna de água potável e R$ 70 milhões para cisternas com água para produção.

Fonte: http://acessepiaui.com.br/geral/cisternas-de-placas-d-o-poder-ao-povo-diz-c-ritas/26518.html