No ano de 2011, a família de Ana Maria foi contemplada com a cisterna de 16 mil litros do Programa Um milhão de cisternas (P1MC) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), destinada para o consumo humano. Em 2014, prestes a ser contemplada com a cisterna-calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) que acumula água destinada para a produção, Ana Maria recebeu o convite do Centro Feminista 8 de Março (CF8) para participar de um curso de cisterneira, desafio que ela aceitou com muita bravura, contrariando opiniões de alguns homens de sua comunidade que não acreditavam que uma mulher pudesse desenvolver esse tipo de trabalho.

Foram muitos os obstáculos enfrentados durante este processo de construção das primeiras tecnologias, principalmente dentro de casa. Ana Maria conta que seu marido não acreditava na sua capacidade: “era eu construindo e ele dizendo que não ia dar certo. No final, quando já estava quase pronta, foi que ele veio reconhecer” explica. Ana também falou que o marido não gostava da ideia de trabalhar para ela: “ele já era pedreiro, aí quando eu fui construir ele achava um absurdo ele trabalhar como meu servente”.

Com força e persistência para enfrentar as críticas e após as primeiras cisternas prontas, sem nenhum problema de execução, sem nenhum vazamento, Ana mostrou para a comunidade e principalmente para o marido que o trabalho das mulheres é valioso e conseguiu desmistificar a ideia de que a construção de cisternas era um trabalho exclusivamente masculino. Com o sucesso de seu trabalho, sendo chamada para trabalhar em outras comunidades, Ana conseguiu inspirar os homens de sua família a seguirem seus passos. Hoje o marido e o filho, influenciados por ela, participaram de capacitações e trabalham junto com ela.

Em 2018, a comunidade Maurício de Oliveira foi contemplada com o P1+2 pela segunda vez, agora com execução pela entidade CF8, e a população local, tendo Ana Maria como referência, fez questão de seus serviços para a construção das novas tecnologias sociais. “Eu fico feliz que o pessoal reconhece o meu trabalho. Até as cisternas que não deu pra eu construir por causa do tempo, as meninas pediam pra eu ficar dando uma olhada, pra ver se tava tudo certinho”, conta ela.

As dificuldades não foram totalmente vencidas, mas Ana Maria sabe muito bem como lidar com elas: “às vezes os companheiros não gostam quando eu digo que tem alguma coisa que não está do jeito que era pra ser, mas eu não ligo e faço o meu trabalho do jeito que tem que ser feito, né?”.

Através desse trabalho, Ana Maria, que é agricultora, consegue uma renda complementar para a família e mais que isso, o respeito e o reconhecimento dentro e fora de sua comunidade. Mas segundo ela, o principal é garantir um serviço bem feito: “eu faço tudo com muito carinho. Meu marido até reclama que eu sou muito exigente, mas é que eu gosto de tudo caprichado pra garantir um bom serviço. O principal é a gente fazer as coisas com paixão, né?”