Caravana
01.08.2018
Histórias da fome no Brasil: Exibição do filme durante a Caravana gera reflexões sobre as várias faces da fome no Semiárido

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Por Elka Macedo - Asacom

Histórias da Fome no Brasil | Foto: Elka Macedo
“A fome não é um processo natural”. A afirmação de Josué de Castro é comprovada nos diversos depoimentos do vídeo-documentário “Histórias da fome no Brasil”, produzido pela MC filmes e dirigido por Camilo Tavares. O filme foi exibido no fim da tarde desta terça-feira (31), no auditório Patativa do Assaré no Centro Nacional de Formação Florestan Fernandes - o espaço de formação foi o ponto de parada da Caravana Semiárido contra a Fome em São Paulo.
 
Exibição de documentário emociona participantes da Caravana | Foto: Elka Macedo
Após exibição da película que emocionou as cerca de 100 pessoas que embarcaram nos dois ônibus da Caravana, houve um momento para debate, no qual foi possível testemunhar as histórias e as vivências de diversos/as agricultores/as e militantes que rememoraram a sua relação e/ou de seus familiares com a fome, bem como sobre as mudanças significativas que houve a partir da conquista de políticas sociais.

“Passar fome e necessidade, não tem coisa pior que isso”, disse emocionado, o agricultor Jamilton Santos, mais conhecido como Carreirinha, que mora na cidade de Correntina na Bahia, ao relembrar os tempos difíceis que passou junto com sua família quando foi preciso vender a última vaca para custear o tratamento do pai na época.

A cada fala, as pessoas se identificavam e com lágrimas nos olhos lembravam o passado que não querem reviver. “Os programas como o Bolsa-Família não deixaram as pessoas mais preguiçosas, deixaram as pessoas com liberdade para comprar o que precisam e ter tempo de cuidar das galinhas e das hortas. E tem muita gente querendo que os programas acabem para que as pessoas trabalhem por qualquer valor. Quando eu era criança, lembro que meu irmão apanhou e foi preso porque não quis trabalhar como escravo e hoje isso pode voltar”, alerta a agricultora Vera Lúcia, da comunidade Serra Bonita, município de Palmeira dos Índios (AL).

Nos depoimentos, campesinos/as e militantes que compõem a delegação da Caravana destacaram o quanto as políticas públicas de convivência com o Semiárido possibilitaram que sertanejos e sertanejas permanecessem em seu lugar com dignidade e fartura e reforçaram que cada política pública é resultado da luta da sociedade civil organizada. “A gente é fruto da luta das nossas mães e dos nossos pais e se a gente conhece a história de nossos pais e de nossos avós a gente continua a luta. A gente é fruto deste Semiárido que luta e que resiste”, diz a jovem militante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Sem Terra, Fátima Borba.

“Neste momento a gente cria a unidade desta Caravana, porque a minha fome não é minha só, ela é de todos/as nós. Sigamos em Caravana!”, salienta a representante da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) no Ceará, Cristina Nascimento. O momento foi finalizado com o grito de ordem que identifica os povos que habitam a região semiárida do país: “É no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste!”.