Mulheres
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Os movimentos foram minha faculdade - a experiência da agricultora Marta Moreira

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Quando acreditamos no nosso potencial e amamos o que fazemos, nós podemos tudo e vamos longe | Foto: Ricardo Vieira

Eu sou Marta Maria Moreira, a quinta filha de 07 irmãos de uma família de agricultores familiares. Fiquei sem pai aos 06 anos e como minha família era muito pobre, tive que ir pra roça muito cedo. Com 07 anos, junto com meus irmãos mais velhos, tive que trabalhar para ajudar a pagar a dívida deixada por meu pai e que apesar de doente fazia de tudo para não nos faltar comida, mesmo que pra isso precisasse se endividar.

Éramos 05 mulheres e nosso irmão mais velho só tinha 14 anos. Todos tinham que trabalhar! E eu, que sempre fui uma pessoa determinada, fazia de um tudo, desde roçar o mato, fazer as covas para planar, colher, fazer cerca e até ajudar a levantar as paredes de taipa da nossa casinha.

Na seca dos anos 80 fui trabalhar na frente de serviço nas estradas, junto com dezenas de homens, para poder ajuda a sustentar a nossa família. Mas isso não me envergonha! Pelo contrário, me sentia orgulhosa por ter certeza que minha família não ia passar fome, nem estava roubando ou pedindo esmola.

Com muita dificuldade para frequentar a escola tendo que percorrer a pé uma distância de 12 quilômetros para chegar à cidade. Cursei apenas o Ensino Médio. No ano de 1983 entrei para os movimentos sociais, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Pastoral da Juventude. Nos anos 90 tive o prazer de conhecer a Associação Cristã de Base (ACB). Esses movimentos foram minha faculdade.

Em 1995, com a ajuda da ACB me tornei apicultora para espanto da minha comunidade que dizia não ser coisa para mulher. Mas eu sempre digo que quando acreditamos no nosso potencial e amamos o que fazemos, nós podemos tudo e vamos longe.

Nossa terra fica na comunidade Tabuleiro Branco, no município de Santana do Cariri, no Ceará. O terreno tem apenas 4,8 hectares, mas nela eu planto roçado de milho e feijão, minha hortinha, minhas fruteiras. Crio galinhas e tenho algumas ovelhas. É pouco, mas é suficiente para que minha família tenha uma alimentação de qualidade, livre de agrotóxicos e com respeito à natureza.