Campo-Cidade
09.05.2019 PB
Educadores e alunos de escolas do campo levam experiências de educação contextualizada para centro de Remígio/PB

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Por Comunicação AS-PTA e Polo da Borborema

A feira “Eu e minha escola construindo histórias” defendeu o direito das crianças de estudarem no seu lugar de vida, que é o campo | Foto: AS-PTA

Na manhã desta sexta-feira (26), a I Feira de Saberes e Sabores das Escolas do Campo, alterou a rotina de Remígio, no Brejo Paraibano, atraindo centenas de visitantes. No centro da cidade, local onde tradicionalmente acontece a feira agroecológica, as barracas de frutas, hortaliças e produtos beneficiados da agricultura familiar dividiram espaço com tendas que abrigaram maquetes, banners, artesanato, cartazes e pinturas em uma mostra das mais variadas experiências pedagógicas na área da educação contextualizada. Durante a feira, 10 escolas rurais de Solânea, Arara, Alagoa Nova, Remígio e Esperança expuseram suas experiências, dialogaram com os visitantes e fizeram apresentações culturais.

O evento foi promovido pelo Núcleo de Infância e Educação da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos de trabalhadores rurais da região. A feira teve como tema “Eu e minha escola construindo histórias” e pretendeu chamar a atenção da sociedade para a importância das escolas do campo, além de promover a troca de experiências exitosas de educação contextualizada.

Os cerca de 50 educadores e as 10 escolas envolvidas são parceiros das “Cirandas da Borborema”, principal ação da Campanha de Valorização da Vida na Agricultura Familiar, iniciativa da AS-PTA em parceria com o Polo criada em 2002, com ações voltadas para os filhos e filhas das famílias agricultoras da região no sentido de reforçar sua identidade camponesa.

Cleuciana Galdino da Silva, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Fernandes de Melo, no Sítio Riacho Fundo, município de Arara, conta que a parceria com as Cirandas contribuiu com o projeto que estão apresentando durante a feira, um trabalho de resgate da história da escola e devolução para a comunidade: “As Cirandas nos estimularam a resgatar a memória da nossa escola, que é uma grande referência para a comunidade. Fomos atrás da memória viva, as crianças entrevistaram a fundadora da escola, dona Jandira Bezerra de Medeiros, de 84 anos. Descobrimos que a escola começou em sua casa e já abrigou até 100 estudantes, muitos até pais de alunos nossos hoje. Depois da história contada, ela foi transformada em versos, pelos próprios alunos. Essa história já existia, agora ela está  sistematizada e vai poder ser repassada para outras gerações, isso é muito importante”, avalia.

Já os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Soares da Costa, no sítio Cacimba da Várzea, em Solânea, registraram o trabalho de pesquisa sobre a história de sua comunidade em bonitas pinturas em telhas de cerâmica. Izonaide de Macena, diretora da escola, conta que os alunos já haviam feito pinturas em telha para presentear suas mães e do trabalho com as Cirandas veio a inspiração para transformar o conhecimento adquirido sobre a comunidade em pinturas que retratam a natureza, os pássaros, os riachos, as árvores e tudo o mais que os alunos foram capazes de observar.

Entre os visitantes da feira, o maior número foi o de professores e estudantes de outras escolas rurais e urbanas de Remígio-PB. As colegas de sala do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Stanislau Eloy, Laísa Soledade, 12 anos, Evllyn Lygia Félix, 11 anos e Raquel Félix, 12 anos, visitaram a feira e não perderam nenhum detalhe nas suas anotações “a professora pediu que a gente viesse e fizesse um relatório, contando tudo que vimos e aprendemos na feira”, contaram.

Adelma Maria Guimarães trouxe um grupo de 23 crianças, com idades entre 8 a 11 anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Elísio Clementino, do Sítio Coelho. “Achei muito interessante a proposta, principalmente o fato de retratar a localidade onde as crianças vivem, isso é muito importante, ainda mais no nosso município, que tem uma identidade muito forte com a agricultura familiar, com a agroecologia”, disse.

Além da exposição dos estandes e da comercialização de produtos agroecológicos, a programação contou com distribuição de mudas, música em voz e violão, apresentação de dança e desfile de roupas com algodão colorido pelos alunos da Escola Municipal Severino Bronzeado, do Sítio Lagoa do Jogo. A personagem Vovó Amorosa, já conhecida das crianças durante as atividades das Cirandas, interagiu com o público e animou os presentes.

Roselita Victor, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema, falou sobre o sentimento de realizar a feira: “O nosso sentimento hoje é de gratidão, por esse diálogo e essa parceria, vocês são fundamentais para a gente reafirmar a importância das escolas do campo, reafirmar que não é só na cidade que o desenvolvimento está. As escolas rurais são importantes para que o campo continue sendo esse lugar de vida, de resistência e de troca de saberes. Estamos aqui para dizer que vamos continuar defendendo o direito das crianças que estudarem no seu lugar”.

Cirandas da Borborema - As cirandas são ações lúdicas e pedagógicas que acontecem duas vezes por ano em cerca de 50 comunidades rurais, onde são trabalhados temas como o uso da água, resgate de brincadeiras tradicionais, alimentação saudável, direitos e deveres, entre outros. As atividades são voltadas para crianças de 12 municípios dos 13 de atuação do Polo da Borborema, que trabalha pelo fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica.

A I Feira de Saberes e Sabores das Escolas do Campo conta com a parceria da Secretarias de Educação do município e com o apoio das agências de Kindermissionswerk, ActionAid, CCFD Terra Solidária e terre des hommes schweiz, que apoiam o trabalho do Núcleo de Infância e Educação da AS-PTA em parceria com o Polo da Borborema.