Agroecologia também é digital
19.05.2021
Agroecologia é saúde, é vida, é sabedoria, é resistência e, agora, também é digital
Série de spots e programas “Agroecologia também é digital” aborda experiências de famílias agricultoras, cooperativas e organizações de convivência com o Semiárido, enfrentando os desafios da digitalização na pandemia

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Por Adriana Amâncio - Asacom

Jô Ribeiro, influenciadora digital agroecológica, atende pedidos da clientela no Instagram - Foto: Acervo pessoal

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) lança, nesta segunda, 17, a série de spots e programas “Agroecologia também é digital”.  A produção, realizada com o apoio do Ministério da Cidadania (MDS), retrata a forma como as famílias da agricultura familiar e as cooperativas agroecológicas, além da organização não-governamental Movimento de Organização Comunitária (MOC), que trabalha com educação contextualizada no Semiárido baiano, desbravaram o universo online. Enfrentando a exclusão digital, que segundo dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua 2018), atinge 53% da população, essas instituições têm mantido as atividades ao longo desta pandemia da Covid-19. 

Lançando mão do uso de redes sociais, de aplicativos de trocas de mensagens, de programas de gestão e de vídeo-chamadas, além de garantirem a renda e a articulação política, essas experiências lançaram luz sobre a importância do acesso às novas tecnologias para a convivência com o Semiárido. Dividida em temáticas distintas, a série compartilha três experiências. 

A temática “Agreocologia e comércio online” aborda a experiência da empreendedora rural agroecológica, Joely Ribeiro, do município de Casa Nova, no Semiárido baiano, que criou o “Armazem da Jô Online “, uma loja agroecológica que vende alimentos frescos in natura e de padaria e pastelaria no Instagram. 

Desbravando a rede social_Jô ficou desempregada na pandemia, o salário do marido foi reduzido com a adoção do trabalho home office. Diante do aperto, ela não teve dúvidas, partiu para uma pesquisa apurada sobre a rede social e usando a sua experiência como atendente na loja agroecológica Central da Caatinga, lançou o Armazém da Jô.

“Quando amanheço o dia que eu vejo que tem muito boleto para pagar, eu pego tanto o Instagram quanto o Whatsapp e envio mensagem, eu digo ‘Oi, bom dia, Cida, hoje chegou isso e isso, você vai querer? ‘Dona Ivanilda, hoje chegou isso, tem o biscoitinho delicado que a senhora gosta, era de R$ 4, agora, é de R$ 3,50, vai querer?” . 

A variedade de produtos oferecida por Jô é grande e envolve uma diversidade de cooperativas e grupos agroecológicos produtivos. Tem os doces e geleias da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), a castanha e a pasta de cajú da Cooperativa Regional de Agricultores/as Familiares e Extrativistas da Economia Popular e Solidária (Coopersabor) e mais uma infinidade de delícias. 

Articulação com as cooperativas agroecológicas_Para manter o estoque cheio, articulando esta rede de cooperativas, Jô Ribeiro desenvolveu uma estratégia especial no mundo online. “Para adquirir os produtos, eu sou uma verdadeira caça likes! Então, se eu compro na Coopersabor, eu vou vendo os produtos que eles têm, vou vendo os perfil que eles estão seguindo, e daí eu vou em busca dos produtos”, afirma. Clique neste link e confira a história completa do Armazém da Jô online.

MOC adotou lives para debater temas trabalhados na educação contextualizada - Foto: Acervo MOC

Educação contextualizada digital, como assim?_A série avança percorrendo o caminho da agroecologia no universo digital, sob a temática “Educação contextualizada enfrentando a exclusão digital”. A pauta é abordada à luz das experiências dos projetos Baú de Leitura e Conhecer, Analisar e Transformar (CAT), ambos desenvolvidos pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC), organização não governamental com atuação no Semiárido baiano.

O Baú de Leitura é uma metodologia de educação contextualizada, desenvolvida em 1999, que trabalha a formação de professores/as por meio da contação de histórias, tendo como suporte um baú composto por 45 títulos de literatura enviados às escolas parceiras. Seguindo os princípios da educação contextualizada, o projeto é voltado para aproximar escola e comunidade e trabalhar temas que fortaleçam a identidade e a convivência com o Semiárido. 

Preocupada em não perder o vínculo com as comunidades, a equipe do projeto lançou mão de diversas estratégias, inclusive com base no uso de ferramentas digitais. Após realizar um levantamento sobre o acesso às ferramentas digitais por parte das comunidades atendidas pelo projeto, que permitiu descobrir que o whattsapp era o melhor caminho para dar continuidade ao trabalho, deu-se início a um ciclo de adaptação dos conteúdos para o contexto da pandemia e do mundo online. 

Neste momento, a criatividade deu a tônica e as coordenadoras do projeto passaram a contar, para as crianças e as comunidades, histórias lúdicas sobre o novo coronavírus, hábitos de higiene, formas de contaminação e de prevenção.“Então, foi o primeiro tema que a gente trabalhou através de vídeos curtos que as professoras e coordenadoras contavam para as crianças e pediram que elas, de uma maneira criativa, devolvessem em forma de vídeos também”, explica a orientadora educacional do MOC, Ana Paula Duarte. 


Inclusão digital para a convivência com o Semiárido_ A experiência de educação contextualizada online, que também envolveu o projeto Baú de Leitura, lançou luz sobre o problema da exclusão digital no Semiárido, que, segundo dados do diagnóstico realizado pelo MOC, é grave na região. Para além disso, a experiência levantou uma série de elementos inovadores, mostrando o papel das novas tecnologias na convivência com o Semiárido. Para saber os detalhes, confira a série “Agroecologia digital” na íntegra.  Para saber detalhes desta história, basta clicar neste link.

Cooperativismo agroecológico online_ Considerando que o cooperativismo é uma importante estratégia para o fortalecimento produtivo, comercial e político das famílias agricultoras agroecológicas, e que esta foi mais uma atividade impedida pela pandemia da Covid-19, a série “Agroecologia digital” chega ao fim, trazendo duas experiências de cooperativismo online. Uma delas relata as estratégias adotadas pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), formada por 272 cooperados/as, sendo 70% mulheres. 

Durante a pandemia, a Coopercuc intensificou o uso das ferramentas digitais e as parcerias com lojas online, iniciadas em 2019, para garantir a realização das reuniões, capacitações, gestão institucional, financeira e administrativa e as vendas dos produtos. “Do ponto de vista da gestão, a tecnologia acabou sendo um auxílio pra que a gente pudesse continuar fazendo a gestão da cooperativa. (...) Nós conseguimos continuar trabalhando, mesmo em casa, através do investimento que nós fizemos em softwares que trabalham com esta tecnologia”, explica o gerente de Mercados Privados da Coopercuc, Dailson Andrade. Neste link, você confere o programa completo sobre a história da Coopercuc.

Outra história abordada na temática Cooperativismo Online é a Agroecoloja, primeira cooperativa de consumo agroecológico do Recife. O espaço foi reinaugurado em fevereiro de 2021, após a efetivação do registro jurídico e é fruto de um processo de uma articulação, envolvendo famílias agricultoras da Rede Espaço Agroecológico ligadas às feiras agroecológicas do Recife e da Região Metropolitana. Essa mobilização deu origem, em 2017, ao Grupo de Consumo Responsável (GCR). 

Em plena pandemia, a saída para garantir o funcionamento da cooperativa foi lançar mão de ferramentas de vídeo-chamadas, para reuniões e as demais atividades institucionais; e o uso do aplicativo de troca de mensagens whatsapp e de um site de e-commerce para garantir as vendas dos produtos. Hoje, 52% de toda a receita da loja é oriunda das vendas online. Os esforços empreendidos desde então, de acordo com o gerente de Mercados da Agroecoloja, Davi Fantuzzi, já renderam estratégias e novos saberes sobre como é fazer agroecologia no mundo digital. Clique no link e conheça mais sobre o cooperativismo online da Agroecoloja

“A parte mais complicada da venda online é o que a gente pode chamar do que acontece offline, que é o quê? Quando eu tenho que enviar informação pro campo, pro campo saber que hora que tem que colher e enviar pra mim? Quem é o meu entregador? Como é que ele vai levar esse produto lá? Qual é o nível de cuidado? Qual o nível que esse entregador e entregadora tem, por exemplo, sobre a agricultura familiar? Porque o seu entregador e a sua entregadora é o braço do seu empreendimento que vai chegar no consumidor final”, compartilha, Davi.

Espaço físico da Agroecoloja que abriga os produtos vendidos online e onde pode ser feita retirada - Acervo Centro Sabiá

O manejo agroecológico, combinado ao acesso à água de beber e de produzir alimento, o cooperativismo e a educação contextualizada estão entre as tecnologias que compõem o arcabouço das estratégias de convivência com o Semiárido. Os desafios impostos pela pandemia da Covid-19, de um lado, revelaram a necessidade de políticas sociais e cidadãs para garantir condições às famílias de vencerem o momento, bem como a importância das políticas de convivência com o Semiárido. 

Do outro lado, reiteraram as capacidades de resistência e de luta das famílias agricultoras agroecológicas do Semiárido, que se apropriaram das ferramentas digitais, lançando luz sobre a exclusão tecnológica, mas também, com muita sabedoria e ousadia, provando a força e a pluralidade da agroecologia, que é saúde, é vida, é sabedoria, é resistência e, agora, também é digital.