Convivência com o Semiárido
14.04.2023
Dia Nacional da Conservação do Solo: saneamento rural e agroecologia são exemplos de preservação da terra
A preservação da superfície do planeta - lembrada neste sábado (15), Dia Nacional da Conservação do Solo - exige um cuidado especial que está diretamente ligado à saúde de quem vive hoje no campo, e ao futuro das novas gerações

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Por Kleber Nunes | ASACom

Fundamental para a vida, o solo não só faz parte do ambiente, como ele é imprescindível para o êxito das ações de convivência com a natureza, sobretudo com o Semiárido. A preservação da superfície do planeta - lembrada neste sábado (15), Dia Nacional da Conservação do Solo - exige um cuidado especial que está diretamente ligado à saúde de quem vive hoje no campo, e ao futuro das novas gerações.

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que há 23 anos atua na promoção do bem viver na região que compreende o interior do Nordeste e de Minas Gerais, defende tecnologias sociais e o manuseio racional do solo. A ideia é não explorar ao ponto de esgotar toda riqueza existente na terra, mas aproveitar as potencialidades respeitando os limites, as características e as funções naturais dos terrenos.

O Dia Nacional da Conservação do Solo foi oficializado pelo decreto de lei nº 7.876, de 1989, e é uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A escolha dessa data é uma homenagem ao conservacionista norte-americano Hugh Hammond Bennett (1881 – 1960), considerado o “pai da conservação do solo”.

De acordo com a Embrapa Solos, relatórios recentes da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, mostram que uma das grandes ameaças ao solo é a acumulação de sais, que reduz o rendimento das culturas e pode eliminar completamente a produção vegetal. No Brasil, a área mais afetada pela salinidade é o Nordeste.

Saneamento rural: tratar a água é proteger a terra

Uma das saídas, que a ASA defende que seja encarada com urgência, para evitar a infertilidade do solo e aproveitar todos os seus nutrientes, é a implantação de sistemas de saneamento rural. Essa medida garante a destinação correta e o reúso das chamadas “águas cinzas” e “águas fecais”, que depois de um processo de purificação retornam para o solo e ajudam na manutenção e produção da cobertura vegetal.

De acordo com o coordenador técnico do Instituto Antônio Conselheiro (IAC) e membro do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido, Ricardo Vasconcelos, o saneamento rural e a conservação do solo estão diretamente ligados. Segundo ele, a superfície terrestre funciona como um filtro com a capacidade de depuração e mobilização de alguns poluentes, mas a realidade rural acaba sobrecarregando o solo.

“Se a gente pega as informações do Programa Nacional de Saneamento Rural, vemos que mais de 90% dos domicílios do Semiárido brasileiro são desprovidos de infraestrutura adequada para a coleta do esgoto sanitário, ou seja, são liberados diretamente no solo, causando poluição e problemas de saúde pública”, explica.

Para mitigar esse problema, a ASA tem atuado intensamente para que seja implantada uma política pública nacional de saneamento rural. Ao mesmo tempo, a entidade e suas organizações parceiras trabalham na implementação de sistemas de tratamento e reúso de águas cinzas (RAC), da fossa ecológica (bacia da evapotranspiração) e do reator UASB (biodigestor de esgoto).

Essas tecnologias de baixo custo são capazes de purificar a água proveniente de pias, ralos e bacias sanitárias, deixando-a com a qualidade exigida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a irrigação, protegendo, portanto, o solo. “A partir do momento que a gente coleta esse esgoto, trata devidamente e reutiliza a gente está contribuindo diretamente para a conservação do solo e também do subsolo evitando a contaminação”, afirma Vasconcelos.

Agroecologia: o solo é um ser vivo

Contraponto à agricultura tradicional que não tem relação com o território e não pensa a diversidade ecológica do local, a agroecologia é outra maneira eficaz de conservar o solo. Para Raimundo Bertino, técnico do Centro Sabiá, a consciência agroecológica de entender que o solo é um ser vivo dentro do ecossistema, é fundamental para uma relação harmônica da terra com as florestas.

“Os solos sustentam as florestas e as florestas mantêm os solos férteis. Sem essa relação não há alimentos, não há vida. E esse processo de cooperação é o que faz com que exista a reprodução natural da vida. Se a gente destrói as matas, destruímos o solo e não teremos alimentos, consequentemente nós não vamos sobreviver”, defende Bertino.

Nos sistemas agroecológicos o cuidado com o solo é o ponto de partida. Bertino explica que esse processo começa na adubação, ou seja, repondo os nutrientes e recuperando a terra garantindo uma cultura mais saudável. Há ainda outras técnicas de conservação do solo na agroecologia como, por exemplo, a curva de nível e cobertura do terreno com palhada.

“As práticas mais convencionais é a do monocultivo, mas na agroecologia é preciso também fazer um processo de consórcio de plantas e evoluir para um sistema agroflorestal ou de quintal produtivo. A produção agroecológica pensa não só no alimento para a família e para os animais, mas também para o solo”, diz Bertino.