Por Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
Céu azul, vegetação da Caatinga, casa acolhedora com sua cisterna ao lado, escola municipal e um poste da rede elétrica entre as duas construções. Essa poderia ser uma paisagem comum na área rural do Semiárido, mas não é! Observe a foto novamente! Notou que não há conexão entre o poste e a casa, nem entre o poste e a escola? Pois é! Em pleno século XXI, na atual sociedade tecnológica, o direito fundamental de acesso à energia elétrica para garantir a dignidade da pessoa humana é negado a mais de 500 famílias que moram nas comunidades Junco e Algodão, no município de Casa Nova (BA), que fica a 54 km da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, que fornece energia à várias regiões do país, mas não contempla as comunidades que estão a poucos quilômetros de distância.
O agricultor Geraldo de Oliveira Fernandes, da comunidade Algodão, a menos de 1 km da BR-235, onde passam os postes da rede elétrica, indignado com a situação que permanece durante anos, conta as dificuldades que toda a comunidade passa sem energia. “Infelizmente isso é vergonhoso, porque a gente tem uma subestação aqui a 2 quilômetros no máximo, e a gente aqui não tem (energia elétrica). A gente tem uma placa solar, mas uma placa solar aqui a gente não pode colocar nem um liquidificador, aí é complicado. Agora nesse tempo mesmo, o calor tá derretendo e você não pode ligar um ventilador, porque a placa não suporta, se você abusar de dia na TV, de noite fica no escuro. Aí infelizmente eu acho que uma das coisas que mais faz falta pra gente aqui, é a energia”.
A jovem agricultora Luciane Souza, da comunidade Junco, que fica a 6 km da BR-235, também expõe as dificuldades que vive sem energia elétrica. “Num calor desse a gente não tem ventilador, não tem geladeira, se comprar uma coisa tem que usar no mesmo dia, porque no outro dia já não presta mais, a água bebe quente, do pote mesmo”.
Além do descaso com essas famílias que até hoje não tem acesso a energia, outra situação que revolta ainda mais os/as moradores/as das comunidades Junco e Algodão, é o projeto de implementação de rede elétrica para o ponto turístico Dunas do Velho Chico, que fica próximo às comunidades. A comunidade relata que em 2020 houve uma movimentação de políticos da região, junto ao governo do Estado para garantir cerca de 700 mil reais para implantação da energia elétrica no ponto turístico, visando a potencialização de empreendimentos hoteleiros, com foco no crescimento turístico da região, esquecendo das centenas de famílias que vivem nas proximidades há anos e tem um direito fundamental negado.
A jovem Luciane conta que as obras para levar energia elétrica para as Dunas do Velho Chico iniciaram este ano com a perfuração das cavas de postes, mas a comunidade se manifestou tapando as perfurações. É inaceitável que a energia elétrica chegue às Dunas, pensando apenas no capital que o turismo pode gerar para o município, deixando que mais de 500 famílias permaneçam sem eletricidade.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Caatinga viva!26.03.2020 BA | Resultados animam famílias a investirem em práticas de recaatingamento |
Segurança Alimentar09.11.2016 BA | Comer é um ato político |
Acesso à Água23.09.2015 BA | Juazeiro sedia ação pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável |
Acesso à Terra20.07.2016 BA | Juiz de Casa Nova (BA) determina despejo de 400 famílias de Fundo de Pasto |
Acesso à Água25.11.2015 BA | Água na escola é discutida em Seminário Intermunicipal de Educação Contextualizada |
Acesso à Terra28.12.2015 BA | Mineração: ameaça constante ao modo tradicional de viver no Semiárido |