Acesso à Água
15.01.2016 CE
Tecnologia Social de reuso de águas cinza é construída em oficina no Ceará

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Por Carlos Rutiele – Comunicador Popular do FCVSA.

Reuso da água doméstica para fruteiras e canteiros| Foto: Rosa Nascimento

A prática é simples: reutilizar a água doméstica para a irrigação de fruteiras e canteiros. Foi partindo desta ideia de reuso de água que o Fórum Cearense pela Vida no Semiárido (FCVSA) realizou de 12 a 15 de janeiro, em Quixeramobim, uma oficina em reuso de águas cinza domiciliar para a produção de alimentos no Semiárido. O encontro reuniu colaboradores/as das organizações do FCVSA para construírem juntos/as, uma Unidade do Sistema de tratamento e reuso de água cinza.

A família que conquistou a tecnologia foi a de Dona Liduína Martins e do seu Aureliano Martins, moradores da comunidade Aroeiras, que fica a 18 quilômetros de Quixeramobim. O casal já havia conquistado a cisterna de primeira água, para consumo humano e a de segunda água, para produção de alimentos, que garantem à família oportunidade de viver melhor em sua comunidade. A família já fazia o reuso da água da pia e do banho, através de um pequeno tanque feito pelo próprio Aureliano, a fim de decantar um pouco do sabão e gordura para reutilizar a água nas árvores grandes.

A iniciativa da família foi a principal motivadora de sua conquista. Para Alexandra, do Esplar: “o que achei mais interessante é que a família já vinha fazendo uma forma de reutilizar a água, ele fez um tanque bem rudimentar e ao final, a água caía em um pote de barro, só que demorava, e a água não era filtrada com tanta qualidade. Então eu acho que essa família tem capacidade de aproveitar bastante essa tecnologia”.

O sistema construído consiste basicamente na reutilização da água domiciliar que vem do chuveiro, da pia da cozinha e da lavanderia, que seria desperdiçada. Através de um sistema de captação da água por gravidade, a água com resíduos e produtos químicos é canalizada para uma tubulação onde se concentra a primeira ‘limpeza’ da água, que é direcionada para a segunda fase de ‘purificação’ formada pelo minhocário, responsável pela fase final de tratamento da água, que depois de todo processo ficará própria para a produção de alimentos.

Além de capacitar um técnico/a por instituição, a oficina possibilitou a troca de saberes, o esclarecimento de dúvidas e proporcionou a construção coletiva do projeto que já vinha sendo discutido pelo FCVSA há alguns meses. “Nós estamos na fase experimental desse sistema, essa é a segunda unidade, onde nós estamos reajustando algumas questões da primeira, que foi construída na comunidade de Porão, no município de Trairi”, afirma Mario Farias, do CETRA.

Segundo Odaléa Severo, do Instituto Antônio Conselheiro, “esse conhecimento que hoje estamos compartilhando é resultado de um acúmulo de experiências anteriores, um exemplo disso é o Projeto Dom Helder Câmara, que já tem experiência na construção dessas tecnologias. Fomos buscar esses conhecimentos no Rio Grande do Norte, na Paraíba e hoje nos possibilitou construir um sistema baseado em experiências anteriores, adaptados a nossa realidade”, disse.

Com a escassez de água no Semiárido, o reuso de água cinza já servidas no uso geral da casa, é de extrema importância para a agricultura familiar, como forma de fortalecer o processo produtivo da família. Sobre a conquista, o Seu Aureliano é ligeiro na resposta: “esse reaproveitamento d’água pra mim não vai mais ser um sonho, ele já é uma realidade”, afirma o agricultor, a quem agradecemos juntamente à Dona Liduína, em nome de todos/as que fazem o FCVSA, pela calorosa recepção, pelas risadas e prosas, pelo cafezinho cheiroso. Agora é “viver e conviver com o Semiárido” como nunca esquece de falar o Seu Aureliano.