Mulheres
20.09.2016 PE
Trabalho doméstico ainda é invisível na zona rural

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Por Emanuela Marinho - comunicadora da Casa da Mulher do Nordeste

A agricultora Josefa Lima, 59 anos, acorda às 4h da manhã e inicia sua rotina de trabalho produtivo e doméstico | Foto: Arquivo CMN

Apesar de fundamental na dinâmica da vida social da família, o trabalho doméstico realizado pela mulher rural não é valorizado, nem remunerado e tampouco visto como esforço, mas como algo natural. A questão principal é que o campo continua sendo um espaço com uma divisão sexual do trabalho bastante evidente. Enquanto homens são responsáveis pelo trabalho produtivo, que resulta em ganhos monetários, as mulheres ficam responsáveis pelo trabalho reprodutivo com o cuidado das crianças e produtivo com os quintais produtivos, isto é, tudo o que está ligado ao ambiente interno da casa, o chamado trabalho doméstico.  O que se configura em uma dupla jornada de trabalho.

Exemplos como é o caso da agricultora Josefa Lima, 59 anos, que acorda às 4h da manhã, coloca o café no fogo, tira o leite da vaca, coloca a comida para os porcos, põe o feijão no fogo, varre e passa pano na casa, e depois prepara o almoço, cuida do quintal produtivo, vai alimentar as galinhas de novo, e todos os outros bichos – é mais comum do que se pensa. E quando o sol se põe, ainda tem o jantar e assim é a última a dormir. Enfrentar todos os dias essa jornada faz parte da maior parte das mulheres no campo. “Eu gosto demais de trabalhar com a terra. Não quero parar de fazer o que gosto. A terra dá o milho, o feijão, a batata, dá tudo. E preciso fazer as tarefas de casa também. Não paro um segundo.”, falou.

É a primeira vez que Josefa recebe uma assessoria técnica na sua comunidade, através do projeto Mulheres na Caatinga, realizado pela Casa da Mulher do Nordeste, com o apoio do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS), gerenciado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). O trabalho de conscientizar as mulheres sobre sua autonomia, fez com que ela enxergasse as desigualdades, mas o diálogo ainda é difícil, principalmente porque envolve costumes e cultura.

“Aprendi que a mulher tem direito igual ao homem. Como a gente trabalha no campo, temos que combinar tudo. Dividir as tarefas é importante, não tem ninguém mais no campo, não tem trabalhador, e ai sou eu e meu marido pra fazer. Eu colho só pra consumo próprio. Mas cuidar de animal e da casa não tem descanso. É o dia todo de trabalho”, contou. Já o marido trabalha o dia todo na roça. 

Visibilizar e tornar as tarefas dentro e fora de casa divididas igualmente entre todos e todas é o primeiro passo para minimizar as desigualdades existentes entre homens e mulheres. E deixar de serem apenas “esposas de”, e passarem a ter nome próprio.