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22.12.2011
Abastecimento hídrico do Semiárido: Cisternas de Placas versus Cisternas de Plástico, nota de João Suassuna
Site - Site Rema Atlântico


A ASA Brasil vinha coordenando no Nordeste seco, o programa Um Milhão de Cisternas, que reputávamos da maior importância para promoção da convivência da população difusa com as agruras do clima da região. A tecnologia milenar de captação de água de chuva, através do armazenamento em cisternas de 16 mil litros, havia sido aprimorada no Semiárido brasileiro, com o incremento de placas na estrutura dos reservatórios, inovação que garantia, ao homem do campo, o acesso a uma água de boa qualidade, fundamentalmente para beber e cozinhar.

A notícia recente da falta de apoio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) ao trabalho que a ASA vinha desempenhando, e a tentativa de se colocar em prática o uso das cisternas de plástico, em substituição àquela tecnologia que vinha sendo adotada com êxito (a de placas), preocuparam a todos aqueles (inclusive a nós) que enxergavam na ASA, uma instituição que vinha desenvolvendo um dos trabalhos mais viáveis na solução definitiva das questões do abastecimento das populações difusas residentes no polígono das secas. Veja o edital de licitação da Codevasf que possibilita a utilização das cisternas de plástico (polietileno) no Nordeste.

Sobre essas questões, três pontos mereceram a nossa atenção: o primeiro deles foi a descontinuidade do aprendizado do homem do campo (falamos em termos de capacitação) na instalação da tecnologia das cisternas de placas em sua residência e de posterior multiplicação desse aprendizado para outros usuários do programa, aproveitando-se, sempre que possível, a mão de obra familiar local. Esse efeito multiplicador era tido como fator de fundamental importância no barateamento da tecnologia, pois empregava muita gente no sertão, utilizando materiais existentes nas propriedades; aumentava a auto-estima do cidadão, além de elevar, significativamente, a eficiência da instalação das unidades previstas pelo Programa.

O segundo ponto diz respeito à proposta de instalação das cisternas de plástico (de 16 mil litros), com a presença de um gargalo em sua estrutura, com o qual haverá o impedimento do transporte das mesmas, acondicionadas uma dentro da outra. Essa característica no transporte trará conseqüências significativas no alto custo dos fretes a serem contratados, normalmente efetuados em caminhões e carretas. O arquivo anexo dá uma idéia das dimensões de uma cisterna de plástico de gargalo e a forma prevista de acondicionamento da mesma nas carrocerias dos veículos.

O terceiro e último ponto diz respeito à alternativa de implantação de outros tipos de cisternas de plástico que não possuem gargalo, (podem ser acondicionadas uma dentro da outra no transporte), mas que possuem volumes de armazenamento muito menores quando comparados àqueles de gargalo (cerca da 8 mil litros, apenas), insuficientes para o atendimento de uma família de 5 pessoas no sertão, sendo necessária a colocação de mais de uma unidade por residência, o que implicará fatalmente no aumento substancial do custo final do empreendimento. Sobre essas questões, cabe uma indagação: não seria mais viável a continuidade da sistemática inicialmente adotada pela ASA, de implantação das cisternas de placas, do que se partir para a implantação de reservatórios de plástico com os inconvenientes aqui citados?

Nesse sentido, numa rápida avaliação do quantitativo de cisternas de placas já instalado pela ASA no Nordeste, e o quanto resta para ser instalado, contando com a utilização das cisternas de plástico, temos a considerar o seguinte:

- O Programa Um Milhão de Cisternas conta atualmente com cerca de 350.000 unidades instaladas no campo, o que representa a conclusão de cerca de 35% da meta inicialmente prevista pelo programa;

- Restam, portanto, 650.000 cisternas a serem instaladas, dessa feita contando com a tecnologia de reservatórios de plástico;

- Caso se leve em consideração a nova determinação do MDS de serem instaladas as cisternas de plástico com gargalo, e a possibilidade de serem transportadas apenas três unidades em cada viagem de uma carreta, isso implicará em cerca de 217.000 fretes. Lembramos que, no caso em questão, estarão transportando, em cada viagem do veículo, a custos exorbitantes, cerca de 48 m³ de ar, e um volume de carga pesando aproximadamente 900 kg, apenas.

Fizemos esse pequeno relato para dar inicio a uma discussão sobre um tema que julgamos de suma importância para a vida do cidadão residente no Polígono das secas. Portanto, o nosso intento maior é o tornar a região Semiárida do nosso país mais justa e solidária possível.

Características e transporte das cisternas de plástico com gargalo

* João Suassuna é Engenheiro Agrônomo, Pesquisador e Coordenador do Núcleo de Estudos e Articulação sobre o Semiárido (NESA), da Fundação Joaquim Nabuco.

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