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24.01.2016
Chuvas transformam o Semiárido do Piauí
Jornal Meio Norte - Djalma Batista
As chuvas que caem no Piauí transformam a paisagem, colorindo o Semiárido com muito verde e flores de variados tons. Enchem tanques, barragens, açudes, lagoas e cisternas e trazem a esperança de uma vida melhor para os sertanejos este ano.

Leia a reportagem na íntegra clicando em http://www.jornal.meionorte.com/piaui/chuvas-transformam-o-sertao-do-piaui-284252

As chuvas que caem no Piauí transformam a paisagem, colorindo o Semiárido com muito verde e flores de variados tons. Enchem tanques, barragens, açudes, lagoas e cisternas e trazem a esperança de uma vida melhor para os sertanejos este ano.

As enchentes registradas nos últimos dias em quase todo o Estado mostram que ações locais de convivência com a seca precisam ser mais intensificadas por prefeituras, aproveitando a abundância de água atual nos períodos mais críticos.

No Semiárido, a estação chuvosa está consolidada. Em Paulistana, a barragem Ingazeira que estava com menos de 40% de sua capacidade, começou a sangrar na noite de sexta-feira, gerando um espetáculo. Abastece toda uma região, indo até Acauã, e abriga um conjunto de projetos produtivos que inclui hortas, vazantes e criatórios de peixes.

Com a capacidade de 25 milhões de metros cúbicos, a barragem passou por um momento crítico em 2015, chegando ao ponto de ser envolvida numa polêmica por causa da retirada de água para as obras da ferrovia Transnordestina. A população recorreu à Justiça para que fosse dada prioridade ao consumo, já que as previsões de chuvas não eram boas. Foi feito um acordo, mas, com as chuvas, o problema acaba de vez.
 
Em Paulistana, 80% das barragens de médio porte que estavam secas já sangraram neste mês. Foi o que informou o secretário de Agricultura do município, Francisco Renato de Carvalho. “A segunda maior barragem do município, que fica na localidade Regalia, já sangrou. Na região, o rio Pilões, desde domingo, não dá passagem para São Francisco de Assis, indo pela comunidade Tigre. No município de Queimada Nova, as chuvas são muito fortes e várias barragens se romperam”, informou Renato. Em Fronteiras, a barragem da Barra, no Sítio Barra, sangrou e deu um show de belas imagens feitas por Ismael Bezerra.
 
O secretário disse que o rio Itaim, que abastece a barragem Marruás, em Patos do Piauí, está cheio e não dá passagem para quem transita na região. Para ele, mesmo com os transtornos naturais, as chuvas estão trazendo muito esperança para o Semiárido e uma expectativa muito grande em relação ao aumento da produção agrícola. “É bom demais. A gente estava pedindo a Deus por estas chuvas. No caso de Paulistana, quando a barragem transborda, a água se renova e a produção agrícola vai aumentar bastante”, falou Renato. No Semiárido, as cisternas transbordaram.
 
A barragem Pedra Redonda, em Conceição do Canindé, recebeu muita água nos últimos dias e pode ter uma elevação repentina do volume com a liberação da correnteza pelo sangradouro da barragem Ingazeira. “Com capacidade de 216 milhões de metros cúbicos, Pedra Redonda já atingiu 50 centímetros a mais do que o volume d'água de todo o ano de 2015, saindo do volume de apenas 35% da época da seca. Falta pouco para sangrar”, disse Valci Pereira de Sousa, presidente da Colônia de Pescadores e Aquicultores Z51 e responsável pelo projeto de piscicultura da barragem.
As chuvas são intensas em Caracol, na região de São Raimundo Nonato, levando alegria e esperança aos sertanejos que vinham sofrendo com a seca por quatro anos consecutivos. No atual momento, os açudes estão praticamente transbordando. A pancada de chuva da madrugada do último sábado registrou um acúmulo de 105 milímetros, uma intensidade só ocorrida em 1989.
 
Em Caracol, na barragem da localidade Solta, ligada ao Assentamento Saco, a água já está próxima do sangradouro, faltando pouco para sangrar. Não é pouca coisa, não, já que a barragem é de grande porte. O açude da cidade, que foi construído em 1912 e que secou nos últimos anos, está recebendo bastante água que muda a paisagem e traz esperança. “Para se ter uma ideia da crise do açude de Caracol durante a seca, a água que restou no local não dava pra encher um carro-pipa”, afirmou o radialista e morador da cidade, Carvalho Filho. Em entrevista ao Jornal Meio Norte, ele informou que o Açude da localidade Lagoa do Mato, Zona Rural de Caracol, que estava totalmente seco, está praticamente sangrando. Segundo Carvalho, com a retomada das chuvas, a esperança do homem do campo renasce e todos terão que lutar para adquirir animais e outros bens perdidos por causa da seca.
 
As chuvas em Caracol trazem os turistas que aproveitam também para visitar mais o Parque da Serra das Confusões. “Muitas pessoas aproveitam esse período para visitação. Aumenta o fluxo de visitantes ao parque por causa do verde e da água nos riachos, uma maravilha”, falou Carvalho.
No município, de acordo com o radialista, ainda não há colheita de legumes, como feijão e milho, porque as primeiras plantações foram perdidas. “Mas agora, com as chuvas, os agricultores fizeram novo plantio. Antes de ser forte, o nosso sertanejo é marcado pela fé. Nunca desiste”, falou Carvalho Filho. "Os sertanejos de mãos calejadas dizem aqui por uma boca só: É uma chuva de bênçãos. Hoje o cenário é outro. A movimentação nas roças e fazendas é grande com a retomada das chuvas".

Agricultores familiares têm a esperança de melhora na renda
Os moradores da comunidade Belo Horizonte, em Conceição do Canindé, tem fortes lembranças dos últimos quatro anos de seca seguidos que destruíram as colmeias e castigaram os animais, mas agora, com as chuvas, eles só querem pensar nos plantios. O agricultor Osmar Luís de Sousa e o pai Luís de Sousa já começaram as plantações de feijão e milho.

A preparação da terra foi iniciada logo que caíram as primeiras chuvas. Eles adubam a terra com esterco de caprinos, para que as plantas nasçam fortes e produzam mais. Com o arado, Osmar vai misturando a terra com o adubo natural que ele colhe nos chiqueiros das cabras e bodes. Com isso, consegue ter uma economia de 100% na adubação, já que não precisa adquirir o produto fora.
 
Osmar não consegue esconder a alegria diante das chuvas. Com a terra molhada e com o pasto verde, suas criações de caprinos resistentes à seca, das raças moxotó e canindé, vão se desenvolver muito mais. Além do crescimento da produção de leite para o consumo da família, o aumento de peso dos animais de corte vai trazer uma maior renda este ano. Osmar espera que, com as chuvas, possa colher bastante milho para alimentar também o criatório de galinha caipira que foi iniciado em 2015, com a conquista do kit oriundo do programa das cisternas, executado pela Obra Kolping do Piauí em parceria com Asa Brasil. A cisterna de placas de Osmar encheu que transbordou. Na comunidade Tanquinho, em Conceição do Canindé, o agricultor José Carlos, disse que as chuvas também encheram sua cisterna calçadão.
 
“As chuvas reacendem a esperança dos sertanejos de que este ano será de muita fartura. Caso as chuvas se mantenha, a produtividade deve ter uma média de 90% de crescimento”, falou José Maria Saraiva, do Centro Regional de Assessoria e Capacitação (Cerac), uma ONG que atua no Semiárido do Piauí. “Posso dizer com todas as letras que a nossas comunidades é só alegria. A romaria em direção as roças tem sido constante”.

A felicidade está estampada no rosto das famílias agricultoras como há muito não se via, de acordo com José Maria. O milagre da chuva, segundo ele, reacendeu no povo piauiense a esperança da mesa farta, da multiplicação das Sementes da Fartura, do fortalecimento d agricultura familiar. Segundo ele, as chuvas que estão caindo são benéficas, não só para a produção agrícola, mas também para a apicultura. "Acredito que, com a explosão das floradas no Semiárido, a produção de mel também será contemplada”, explicou.
 
Segundo José Maria, na região de atuação do Cerac está chovendo de um jeito bom, sem exageros, sem trovoadas e sem riscos de destruição. Por enquanto são boas as expectativas de colheitas caso as chuvas continuem também nos meses de fevereiro e março. “Se tudo ocorrer bem, acredito que vamos ter uma média de 90% do aumento de ganhos na produtividade. Temos que concordar que faz tempos que não temos essas expectativas. Estamos entregando sementes para o plantio, e isso está chegando na hora certa. Está aí a diferença do trabalho de articulação ASA Brasil, que defende ações de convivência com a seca. “O Semiárido piauiense é rico, bonito e bom de se viver”, declarou José Maria.
 
Ao comemorar a chegada das chuvas, o coordenador do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido (Asa Piauí), Carlos Humberto Campos, disse que no Piauí 50 mil cisternas de placas para o consumo humano, 8 mil cisternas calçadão para a produção de alimentos, 166 cisternas de placas nas escolas e barreiros trincheira, construídos no Estado a partir da articulação da Asa Brasil, vão encher.

“Com as chuvas de janeiro chegando, é certeza do verde que chega com suas flores, seus frutos, com a produção de alimentos saudáveis, garantindo vida e alegria para o povo do Semiárido. A natureza revela para nós a riqueza e a exuberância da região que, ao longo da história os olhos dos gestores públicos resistem em não enxergar”, disse o coordenador do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido (Asa Piauí), Carlos Humberto Campos.
O radialista Joelson Vieira, do Centro de Formação Educacional para Convivência com o Semiárido (Cefesa), em Castelo do Piauí, disse que do dia 6 até a última sexta-feira, as chuvas no município acumularam 340 milímetros. “Em 15 dias de chuvas, houve uma completa transformação em nosso município, com os plantios e formação de aguadas”, falou Joelson.
 

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