Em Esperança
13.03.2020 PB
Mulheres dizem não ao feminicídio e se levantam contra a violência doméstica na 11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia

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Por Marcelle Honorato - Angola Comunicação

O municipio de Esperança, com pouco mais de 33 mil habitantes, recebeu 6 mil mulheres mobilizadas contra o feminícidio e toda forma de opressão | Fotos: Marcelle Honorato/Angola Comunicação

Em cada rosto, havia alegria, coragem, sorrisos. Havia braços pintados, corpos despidos livres e também vestidos com a bandeira da ‘11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia’. A atividade foi realizada ontem (12), no município de Esperança, Agreste paraibano, e reuniu cerca de 6 mil mulheres. A concentração aconteceu no Campo da Rodoviária, na entrada da cidade, que recebeu uma Feira Agroecológica, expressão da produção da agricultura familiar protagonizada pelas mulheres; shows, como o da cirandeira Lia de Itamaracá, que fez questão em estar em mais uma edição; peça de teatro e o depoimento de mulheres que passaram por relacionamentos abusivos e agressivos na denuncia contra todas as formas de violência. A marcha é uma realização da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e do Polo da Borborema, um fórum formado por sindicatos rurais de 13 municípios da região.

A  voz potente da cirandeira Lia de Itamaracá se une às das milhares de mulheres da Paraíba, principalmente, do Agreste

De acordo com Marizelda Salviano, uma das organizadoras do evento e representante do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Esperança, a Marcha é o momento de reafirmar a luta pelas mulheres e de dizer não ao machismo. “Não aceitamos essa sociedade que oprime e mata as mulheres. De mãos dadas, construiremos com a agroecologia um mundo mais fraterno para homens, mulheres, crianças e jovens. É a marcha pela vida”, resumiu. Além de participantes de vários municípios do estado, a marcha também contou com mulheres da Articulação Semiárido Paraibano (ASA PB), que todos os anos fortalecem o evento e de outros movimentos de mulheres do campo. Mulheres dos três programas da AS-PTA (PR, RJ, além de PB) também estiveram reunidas na atividade.

A vida, de fato, pulsava na 11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. As mulheres dançavam, brincavam, mas não se esqueciam do motivo que as une: a luta por um mundo mais igual entre homens e mulheres e contra os retrocessos de seus direitos. “Temos muita força e precisamos ser reconhecidas”, afirmou Maria Eduarda Sales, de 17 anos. A adolescente não só reconhece a força da organização como já a usou para resistir e lutar, junto às amigas, para que sua turma do colégio não fosse fechada. “Os nossos colegas de sala desistiram da turma de informática, que era formada por cerca de 40 alunos. Quiseram fechar a turma, mas não deixamos. Hoje somos apenas sete alunos e vamos terminar o curso. Estamos no 3º ano”, explicou.

Jovens encenam a mística "O violador é tu" que denuncia a violência e o machismo institucionalizados praticados pelo Estado e Justiça

A luta pelos direitos da mulher começa cedo e se estende por toda a vida adulta. Como é o caso da agricultora Rosilda de Lima, de Montadas, que sobreviveu a um relacionamento abusivo e agressivo. Segundo Rosilda, as agressões começaram logo após o casamento e a justificativa das agressões era porque seu então marido queria um filho e ela não conseguia engravidar. Mesmo após ter seu primeiro filho, as agressões não pararam e na terceira gestação teve consciência do universo violento que a cercava. Após sua quinta gestação reuniu forças para se levantar contra as agressões. O grupo de teatro do Polo da Borborema também, em forma de arte, contou a história de um relacionamento abusivo. Com brigas que se avolumaram até que o poder que o homem acredita exercer sobre a mulher vira agressão e feminicídio.

Após os depoimentos, as mulheres seguiram em marcha pelas ruas do município de Esperança. A mística ‘O violador é tu’, realizada pelas organizadoras da marcha, chamou a atenção. Nela, as mulheres com rostos cobertos e com ajuda de instrumentos percussivos falaram sobre a violência e o racismo praticado pelo Estado e pela Justiça brasileira. Elas apontaram o dedo para falar sobre o estupro, o fascismo e a falta de respeito que precisam vencer todos os dias.  

Com o fim da mística, a 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia seguiu para o Campo da Rodoviária e foi recebida com a apresentação das crianças que participam do Serviço municipal da Convivência e Fortalecimento de Vínculo de Esperança. Em seguida, a cirandeira Lia de Itamaracá se apresentou com os as filhas de Mestre Baracho, mestre cirandeiro, fazendo a luta de forma cantada com todas as milhares de mulheres que se uniram e juntas realizaram mais uma marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia no Agreste paraibano.

Texto e fotos: Marcelle Honorato/Angola Comunicação