Tecnologia e tradição
19.04.2024
Indígenas do semiárido estocam água para beber e produzir de forma agroecológica
Com a volta do Programa Cisternas, P1MC e P1+2 voltam a ser executados em comunidades indígenas.

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Por Lívia Alcântara

A Aldeia Poço de Areia, do povo indígena Jeripancó, fica no município de Pariconha, em Alagoas. Dentre as seis aldeias que compõem a comunidade, a Poço de Areia é a que enfrenta maior dificuldade no acesso à água potável. Embora esteja próxima ao rio Moxotó, a água não é própria para consumo humano e só aparece durante o período de chuva. Algumas famílias possuem cisternas, que são abastecidas por caminhões pipa, mas as casas estão distantes uma das outras, o que dificulta que os vizinhos possam acessá-las. Além disso, a aldeia está distante da aldeia central, Ouricuri, e da cidade de Pariconha. 

A novidade é que a dificuldade de acesso à água está com os dias contados em Poço de Areia. Das 28 famílias que vivem ali, 15 famílias não possuem cisternas e 14 serão beneficiadas com a tecnologia de primeira água pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), executado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Esta leva de tecnologias em construção sana a demanda de Ponta de Areia”, explica Sílvia Janayna, colaboradora da Cooperativa de Pequenos Produtores Agrícolas de Bancos Comunitários (COPPABACS), organização que executa as cisternas no território dos Jiripancó.

“Essa demanda de atender o Poço de Areia é de extrema importância, porque é uma comunidade que não tem acesso direto à água (...) Entre as aldeias, a mais distante da aldeia central, chegando a mais de 12 km, é a aldeia Poço de Areia, onde as famílias têm dificuldade, de fato, do acesso à água”, enfatiza Ervison Araújo, que além de morador, é Secretário Municipal de Povos Indígenas e Quilombolas de Pariconha e coordenador do núcleo de juventudes da APOINME em Alagoas.

Na atual retomada do Programa Cisternas, 116 famílias indígenas já foram mobilizadas pela ASA para receber a tecnologia de primeira água no semiárido brasileiro. 

Produção indígena e agroecológica 

As famílias indígenas que já possuem a cisterna de primeira água podem acessar tecnologias de estocagem de água para produção de alimentos e criação de animais. A comunidade indígena de Nazaré, que fica no município de Lagoa do São Francisco no Piauí, onde residem 450 indígenas dos povos Tabajara e Tapuio-Itamaraty, está sendo beneficiada com oito cisternas calçadão e  quatro cisternas de enxurrada, via o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) executado tambem pela ASA.

As tecnologias são acompanhadas por uma metodologia de diagnóstico dos agroecossistemas, que busca entender as características sociais e produtivas da família, construir em conjunto com elas um projeto produtivo e liberar um fomento para desenvolvimento da produção agroecológica. 

Lucinete Maria do Nascimento, que recebeu a cisterna de primeira água em 2011, acaba de ser beneficiada com a cisterna calçadão e pretende ampliar os plantios que já possui. “Eu vou desenvolver um projeto junto com a minha vizinha para a gente plantar macaxeira, milho, feijão, fava, batata doce. Eu já tenho um pequeno plantio de pitaya e a gente pensa em ampliar essa plantação. A gente pensa também em plantar caramuela, amendoim, pimentão, tomate e ter o nosso canteiro de cheiro verde. A gente quer ter um pouquinho dedicado para nossa alimentação e para o nosso consumo”. Toda orgulhosa, Lucinete comemora: “já foi construída e está cheia!”.

 

Plantação de pitaya de Lucinete, na comunidade indígena de Nazaré, município de Lagoa do São Francisco - Piauí.

Plantação de pitaya de Lucinete, na comunidade indígena de Nazaré, município de Lagoa do São Francisco - Piauí.