A educação contextualizada é um elemento fundamental na construção de um desenvolvimento sustentável no Semiárido. Ela precisa contemplar os desafios e perspectivas da educação no Semiárido, mas também a educação ambiental e o processo de desertificação no Semiárido.

O conhecimento e a educação não são processos neutros como muitas vezes alguns os apresentam. Eles estão em correlação e a serviço da visão de mundo e de sociedade que se quer construir. Quando se quer negar determinado tipo de conhecimento ou evitar que ele se divulgue - pois pode prejudicar os projetos dos exploradores e donos do poder -, a estratégia é proibir a veiculação e/ou valorização dos mesmos, evitando que determinadas classes e categorias tenham acesso aos processos educacionais e de conhecimento. Assim pode-se entender melhor porque as elites brasileiras sempre afirmaram que o Semiárido não possui e nem produz conhecimentos e que seu povo é atrasado na educação. Aceitando-se uma tese como esta aceita-se, por extensão, que para  salvar  o Semiárido é preciso impor e trazer conhecimentos de fora. Essa, aliás, foi e é uma premissa básica de todas as ações de combate à seca: impor e importar conhecimentos, visto que o povo do Semiárido não teria capacidade de produzir seus próprios conhecimentos.

Desse processo resultou, no Semiárido, a enorme massa de analfabetos ainda hoje existentes. Produziu, também, as péssimas escolas atuantes no Semiárido, especialmente na área rural. Escolas que estimulam o êxodo rural, geram nas pessoas  a vergonha  e baixa autoestima pela vida no Semiárido. A própria assistência técnica contribuiu para que os agricultores desvalorizassem o que era seu, seu modo de vida, sua terra e sua cultura. Nesse sentido, há uma coerência entre o que se faz na educação formal, na extensão e na assistência técnica numa perspectiva produtivista.

Hoje, embora ainda não se possa falar de uma educação contextualizada implementada, nem de um processo de convivência com o Semiárido implementado, há sinais que apontam que se está nesse caminho. Nas últimas décadas se destacam muitas ações que têm influenciado significativamente a educação no Semiárido. O que se busca é uma escola construtora de conhecimentos que, na interação com as comunidades, ajudem a transformar o Semiárido. Por isso, uma escola intérprete da realidade local, que fortaleça a identidade das pessoas e comunidades, que respeite a cultura, preserve o meio ambiente e promova um desenvolvimento  sustentável.

Finalmente, à medida que se incentiva a criatividade, a inventividade, a crítica, a construção de conhecimentos por parte dos agricultores e agricultoras no Semiárido, estimula-se o combate à desertificação, tanto das ideias quanto dos recursos naturais. As pessoas que antes eram confinadas e tratadas como objetos se tornam sujeitos de suas histórias e de seus caminhos.

* Naidison de Quintela Baptista é mestre em Teologia, com graduação em Filosofia, Teologia e Educação; presidente do Consea Bahia e conselheiro do Consea Nacional. Carlos Humberto Campos é Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira   Regional do Piauí e membro da Coordenação da ASA Brasil.

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